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TEATRO
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Bel Pedrosa/Folha Imagem
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A atriz Andréa Beltrão, 37, que estará em musical de Branco Mello, baseado em disco e livro |
Andréa Beltrão emenda três peças seguidas e se prepara para ser dirigida pelo marido em infantil, enquanto continua com temporada carioca de "A Prova"
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MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Andréa Beltrão, 37, não sai de
um palco há cinco anos seguidos.
Protagonizou, pela ordem, "A
Dona da História", de João Falcão, "Memória da Água", de Shelagh Stephenson, e está em cartaz
no Teatro do Leblon, Rio de Janeiro, com "A Prova", de David Auburn, dramaturgo norte-americano de 28 anos.
Acendendo uma peça na outra,
ela ensaia o infantil "Eu e Meu
Guarda-Chuva", de Branco Mello
e Hugo Possolo, a ser exibida concomitantemente com "A Prova".
O vício do teatro a pegou de jeito. Pela ordem, três grandes sucessos, três textos contemporâneos e três diretores inspirados:
João Falcão, Felipe Hirsch e Aderbal Freire. "Eu e Meu Guarda-Chuva" será dirigido pelo marido,
Maurício Farias, e Vicente Barcelos.
Há quase 20 anos, Andréa era
uma jovem atriz saída do Tablado
e, com Débora Bloch, Zé Lavigne,
Cláudio Baltar e outros, do grupo
Manhas e Manias, investia em infantis e criações coletivas afilhadas do besteirol. Por um longo
tempo, a TV a absorveu. Despontou como vértice de Juba & Lula
em "Armação Ilimitada" e trabalhou em novelas, como na recente
"As Filhas da Mãe". Foi uma época em que fez pouco teatro e três
filhos: Chico, 7, Rosa, 5, e Zé, 2.
Morou três anos em São Paulo,
no começo dos anos 90, quando
não fazia nada. Criada num quarto-e-sala de Copacabana, filha de
uma professora de escola pública,
ela cria seus personagens olhando
as pessoas nas ruas à surdina.
Folha - É difícil ficar tanto tempo
em cartaz?
Andréa Beltrão - É bom pra caramba.
Folha - Quando eu disse que ia te
entrevistar, alguém perguntou: "É
aquela atriz cômica?"
Beltrão - Ai, que bom.
Folha - Sua personagem em "Memória da Água" não era cômica...
Beltrão - Não era.
Folha - Você é uma cômica?
Beltrão - Espero que sim.
Folha - Prefere ser reconhecida
como cômica?
Beltrão - Ah, eu gosto. Em "Memória da Água", sofri , achava que
não iria convencer. Queria me
sentir segura, foi o meu primeiro
papel dramático no teatro. Fiquei
muito aflita. O Felipe (Hirsch, diretor) me chamava de ridícula
quando eu achava que nas cenas
de emoção as pessoas fossem rir.
Folha - Houve um intervalo grande em sua carreira teatral. O que
aconteceu?
Beltrão - Fiz o figurino de uma
peça do Manhas, em São Paulo,
mas saiu tudo errado. Depois,
veio um fracasso com Paulo Betti,
"Ação entre Amigos". Eu estava
contratada pela Globo, que começou a me solicitar muito. Curto fazer TV, com aquela parafernália
toda. Mas no teatro você pode se
produzir. E não pintava uma peça legal, eu não conseguia entrar
em uma turma.
Folha - É diferente trabalhar com
um grupo que cria coletivamente?
Beltrão - No Manhas, bolávamos tudo, íamos inventando.
Agora, a Andréa não existe, me
entrego totalmente ao diretor.
Gosto que mandem em mim, ser
dirigida. Fico superobediente. A
graça dessa profissão é você deixar de ser você mesmo e viver
uma outra pessoa qualquer, que
alguém escreveu.
Folha - Você aprende com suas
personagens?
Beltrão - Aprendo. Em "A Prova", a personagem é uma pessoa
meio esquisita, fora do padrão.
Me identifico e gosto de defender
uma pessoa assim. Na peça, esse
tipo de comportamento, de maneira de levar a vida, vence. Isso
me dá liberdade de ser como sou.
Folha - Você ficou atormentada
pelo nó de casualidade de "A Dona
da História"?
Beltrão - Fiquei. E ia estacionar
o carro e, como a personagem,
pensava: "Por que não parar naquela outra vaga?". Mas reprimia
estas dúvidas e me dizia: "É aqui
que estou e ponto".
Folha - Você ganha bastante dinheiro com teatro?
Beltrão - Não. Com algumas peças, dá pra viver só de teatro, mas
não com todas. Para viver assim,
teria de mudar minha vida.
Folha - Você é uma atriz muito
requisitada?
Beltrão - Não. "A Dona da História" foi um autoconvite. Eu e a
Marieta (Severo) a produzimos.
"Memória da Água", o Felipe me
convidou, numa época em que
ninguém me chamava. Para fazer
"A Prova", o dono do teatro me
chamou. Foram só estes convites.
Não recusei 500 outras coisas.
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