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Majors investem menos no cinema brasileiro
Mercado de DVD perde R$ 400 milhões e, indiretamente, atinge as produções
Cerca de 70% do dinheiro aplicado em filmes como "Carandiru" e "Se Eu Fosse Você 2" teve origem no faturamento do vídeo
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
A pergunta é quase uma charada: qual a ligação entre o
DVD de "Transformers" vendido na barraquinha do camelô e
a produção de um filme nacional? A resposta tem certa sisudez: o artigo 3º da Lei do Audiovisual. Mas, como sempre
acontece no xadrez da indústria cultural, o dia a dia do público e o labirinto dos negócios
estão menos distantes do que
se imagina à primeira vista.
Para compreender a resposta
enigmática é preciso saber, primeiro, que as vendas de DVDs
para locadoras, principal engrenagem do mercado de vídeo,
encolheram 45% entre 2006 e
2008. A perda foi da ordem de
R$ 400 milhões. E parte desse
dinheiro era aplicado na produção de longas-metragens brasileiros.
A base desse mecanismo de
financiamento, o artigo 3º, é o
imposto pago pelas distribuidoras no momento da remessa
de royalties de um filme para a
matriz. Quando se associam a
um produtor nacional, as empresas obtêm um desconto de
70% no tributo. A princípio, as
majors ficaram com o pé atrás.
Mas a manobra fiscal mostrou-se um ótimo negócio. Tanto é
assim que, dos 10,3 milhões de
espectadores que foram assistir
a um filme brasileiro no primeiro semestre, mais de 90%
compraram ingressos para títulos coproduzidos pelas grifes
com sede em Hollywood.
É nesse ponto da história que
o cinema nacional e a barraquinha do camelô (e os downloads) se encontram. Segundo
Wilson Cabral, diretor da Sony
Entertainment, um filme como
"Homem Aranha 2", que vendeu 380 mil unidades no varejo, hoje venderia 150 mil. Por
que tal queda tem implicação
nos filmes nacionais? "Porque
de 60% a 70% dos recurso do
artigo 3º vinham do home-video", responde Feitosa.
Para não deixar de entrar em
certas produções, a Sony pediu
um adiantamento à matriz.
"Investimos em "As Vidas de
Chico Xavier" e "Salve Geral"
com empréstimos", diz o diretor-geral da empresa, Rodrigo
Saturnino Braga. "Mas, com isso, é natural que a gente arrisque menos."
A Warner, que chegou a aplicar R$ 10 milhões por ano em
filmes nacionais, dispõe, agora,
de R$ 6 a R$ 8 milhões. "E tivemos uma compensação porque
vários de nossos filmes fizeram
boa bilheteria no cinema", diz
José Carlos Oliveira, diretor-executivo da empresa.
A produtora Sara Silveira,
que usou recursos da Warner
no inédito "Os Famosos e os
Doentes da Morte", lamenta os
cifrões perdidos, mas pondera:
"A arrecadação diminui porque
os DVDs têm preço salgado.
Junte-se isso à pirataria e já
viu". Sara observa que a queda
não é sua "maior preocupação"
porque as majors, em geral, não
trabalham com filmes autorais,
sua principal vocação.
Quem também não vê com
maus olhos o novo cenário é
Bruno Wainer, diretor da
Downtown, distribuidora de
filmes nacionais. "Novos mecanismo, como Funcines e Fundo
Setorial, compensam a perda",
diz. "Como distribuidor brasileiro, não acho ruim que diminua o poder das majors. A prioridade delas, afinal, é o cinema
estrangeiro, não o nacional. Há
certa esquizofrenia nisso."
Wainer refere-se ao duplo
papel das majors: de concorrentes, por dominarem o mercado com blockbusters, e de
salvadoras, por colocarem sua
máquina a serviço dos filmes
nacionais que produzem. É
que, ironicamente, quanto
mais render "A Era do Gelo 3",
mais royalties haverá e mais dinheiro de imposto será revertido para o cinema nacional.
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