São Paulo, sexta-feira, 31 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Furtado usa poesia para contar "história de corno"

Diretor de "Decamerão", que estreia hoje, retrata triângulo amoroso em versos

Roteirista diz que usou rima na série com Deborah Secco e Lázaro Ramos "porque é bonito e estabelece uma fronteira com o realismo"


AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

"Tem uma história muito boa", conta o diretor Jorge Furtado. "Manuel Bandeira passava em frente a um hotel no Rio que se chamava Península Fernandes. Um dia, entrou e perguntou ao dono: "Por que esse nome?". E o cara disse: "Fernandes porque é meu nome, península porque é bonito"." É assim que Furtado, 50, explica a razão de ter feito em versos o texto da série "Decamerão", que estreia hoje na Globo e terá quatro episódios, sempre às sextas. "É em verso primeiro porque é bonito. Segundo, porque estabelece uma fronteira com o realismo", justifica.
"Ninguém fala em verso. O teatro foi poesia até o século 18, com Molière, Racine, Shakespeare. O teatro sem verso é uma novidade, tem 200 e poucos anos. A métrica já dá um tom que me interessa, de não ser realista", diz ele.
Se o texto se distancia do realismo pelos versos, a história não -ao menos na opinião do diretor de núcleo da Globo Roberto Talma, que, em entrevista à Ilustrada, afirmou que "Decamerão" é "uma história de corno, de "a" que deu para "b", que deu para "c'".
Furtado, que acumula trabalhos como roteirista e diretor na Globo, como "Agosto" (1992) e "Comédias da Vida Privada" (de 1995 a 1997), acha graça e faz uma lista de outras "histórias de corno": "Dom Casmurro", "Ulisses", "Tristão e Isolda", "Madame Bovary", entre outros. E completa, rindo: "Talma, essa história de corno não existe, é só uma coisa que botaram na sua cabeça".
Na série, Monna (Deborah Secco) é uma criada que se casa com o filho do ex-patrão, Tofano (Matheus Nachtergaele), para herdar sua fortuna, mas está apaixonada pelo falso padre Masetto (Lázaro Ramos). Ela sai de casa dizendo ao marido que vai se confessar e lá se vai uma história de corno.
Com "experiência de leitor de poesia", Furtado fez a redação final em versos a partir de um texto adaptado de "Decamerão", de Giovanni Boccaccio (1313-1375), e gravou numa fazenda colonial em Bento Gonçalves (RS). "Tem que ter um certo ouvido [para escrever poesia], tem que escandir o verso, falar em voz alta, pensar na sonoridade", diz. Durante um ano, ele, Guel Arraes, Carlos Gerbase e Adriana Falcão fizeram a primeira adaptação. Falcão, 49, ajudou a criar os versos. "No começo, pensei em me matar", brinca a roteirista de "A Grande Família". "Aí, passei a tratar o texto como um quebra-cabeça."
Para ela, "o verso passa batido para quem vê, graças à boa interpretação". O elenco não pôde incluir improvisos para não comprometer as rimas. Segundo Furtado, como alguns atores são mais acostumados "àquela interpretação naturalista da televisão", como a protagonista Deborah Secco, o desafio era "transformar o texto num negócio que não soasse como um recitativo". "O verso é só a cereja", conclui Adriana Falcão.


DECAMERÃO

Quando: hoje, às 23h, na Globo
Classificação: não indicado a menores de 16 anos




Texto Anterior: Crítica/"Osvaldinho da Cuíca: Cidadão Samba": Fita de samba vale por registro histórico
Próximo Texto: Resumo das novelas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.