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Furtado usa poesia para contar "história de corno"
Diretor de "Decamerão", que estreia hoje, retrata triângulo amoroso em versos
Roteirista diz que usou rima na série com Deborah Secco e Lázaro Ramos "porque é bonito e estabelece uma fronteira com o realismo"
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
"Tem uma história muito
boa", conta o diretor Jorge Furtado. "Manuel Bandeira passava em frente a um hotel no Rio
que se chamava Península Fernandes. Um dia, entrou e perguntou ao dono: "Por que esse
nome?". E o cara disse: "Fernandes porque é meu nome, península porque é bonito"."
É assim que Furtado, 50, explica a razão de ter feito em versos o texto da série "Decamerão", que estreia hoje na Globo
e terá quatro episódios, sempre
às sextas. "É em verso primeiro
porque é bonito. Segundo, porque estabelece uma fronteira
com o realismo", justifica.
"Ninguém fala em verso. O
teatro foi poesia até o século 18,
com Molière, Racine, Shakespeare. O teatro sem verso é
uma novidade, tem 200 e poucos anos. A métrica já dá um
tom que me interessa, de não
ser realista", diz ele.
Se o texto se distancia do realismo pelos versos, a história
não -ao menos na opinião do
diretor de núcleo da Globo Roberto Talma, que, em entrevista à Ilustrada, afirmou que
"Decamerão" é "uma história
de corno, de "a" que deu para "b",
que deu para "c'".
Furtado, que acumula trabalhos como roteirista e diretor
na Globo, como "Agosto"
(1992) e "Comédias da Vida
Privada" (de 1995 a 1997), acha
graça e faz uma lista de outras
"histórias de corno": "Dom
Casmurro", "Ulisses", "Tristão
e Isolda", "Madame Bovary",
entre outros. E completa, rindo: "Talma, essa história de
corno não existe, é só uma coisa que botaram na sua cabeça".
Na série, Monna (Deborah
Secco) é uma criada que se casa
com o filho do ex-patrão, Tofano (Matheus Nachtergaele),
para herdar sua fortuna, mas
está apaixonada pelo falso padre Masetto (Lázaro Ramos).
Ela sai de casa dizendo ao marido que vai se confessar e lá se
vai uma história de corno.
Com "experiência de leitor
de poesia", Furtado fez a redação final em versos a partir de
um texto adaptado de "Decamerão", de Giovanni Boccaccio
(1313-1375), e gravou numa fazenda colonial em Bento Gonçalves (RS). "Tem que ter um
certo ouvido [para escrever
poesia], tem que escandir o
verso, falar em voz alta, pensar
na sonoridade", diz.
Durante um ano, ele, Guel
Arraes, Carlos Gerbase e Adriana Falcão fizeram a primeira
adaptação. Falcão, 49, ajudou a
criar os versos. "No começo,
pensei em me matar", brinca a
roteirista de "A Grande Família". "Aí, passei a tratar o texto
como um quebra-cabeça."
Para ela, "o verso passa batido para quem vê, graças à boa
interpretação". O elenco não
pôde incluir improvisos para
não comprometer as rimas.
Segundo Furtado, como alguns atores são mais acostumados "àquela interpretação
naturalista da televisão", como
a protagonista Deborah Secco,
o desafio era "transformar o
texto num negócio que não
soasse como um recitativo". "O
verso é só a cereja", conclui
Adriana Falcão.
DECAMERÃO
Quando: hoje, às 23h, na Globo
Classificação: não indicado a menores
de 16 anos
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