São Paulo, sexta-feira, 31 de julho de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"Osvaldinho da Cuíca: Cidadão Samba"

Fita de samba vale por registro histórico

MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Considerando que o próprio Osvaldinho codirige o documentário, podemos chamar "Osvaldinho da Cuíca: Cidadão Samba" de autocinebiografia de um dos nomes mais importantes da história do samba de São Paulo. O trabalho vem agregar mais um elemento à atual leva de projetos que buscam documentar as origens do samba na cidade -o que inclui a série de CDs "Memória do Samba Paulista", lançada na semana passada, e o livro "Batuqueiros da Pauliceia" (Barcarolla), escrito a quatro mãos por André Domingues e... Osvaldinho da Cuíca. "Cidadão do Samba" é curto: apenas 48 minutos de duração.
Gravado em digital, tem escassas imagens de arquivo -quase todas relativamente recentes. Os depoimentos também são ralos, parecendo mais declarações de amor ao biografado (como o de Beth Carvalho: "Tenho orgulho de ser amiga de Osvaldinho" -sim, mas e daí?) do que revelações sobre algum fato realmente importante.

Primeira pessoa
As qualidades do documentário, portanto, concentram-se em um único ponto: os novos registros do próprio Osvaldinho -hoje com 69 anos. Passista, compositor, instrumentista, intérprete e estudioso do samba, é ele mesmo que narra, em primeira pessoa, sua história. E defende a importância do resgate das raízes rurais que o samba paulista abandonou assim que foi obrigado a seguir, a partir do final dos anos 60, os padrões cariocas.
Em alguns momentos, "Cidadão do Samba" mais parece uma videoaula. Carismático, Osvaldinho demonstra, diretamente para a câmera, seus conhecimentos técnicos na baliza (usada como elemento cênico nos cordões carnavalescos pré-anos 70), na caixa de engraxate, na frigideira (tocadas como instrumentos de percussão), no pandeiro e, claro, na cuíca.
Também ensina na prática as diferentes modalidades de samba no pé: miudinho, embaixada, amolador, corta-jaca, machucadinho e separa o visgo -sutilezas coreográficas de que boa parte do mundo aqui fora nunca ouviu falar. O personagem termina o filme cantando os versos de Toniquinho Batuqueiro, outro mestre da velha guarda paulista. "Samba nunca deu camisa, minha avó sempre dizia / Sambador não vale nada, dorme na calçada, não cuida da família." A vontade de Osvaldinho, isso aparece no filme, é fazer com que as avós mudem de ideia.


OSVALDINHO DA CUÍCA: CIDADÃO SAMBA

Direção: Toni Nogueira, Simone Soul e Osvaldinho da Cuíca
Produção: Brasil, 2008
Onde: no CineSesc, às 20h30
Classificação: livre
Avaliação: regular




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