|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA HISTÓRIA
Edição traduz pesquisa de documentos com erudição
Evaldo Cabral de Mello faz consistente
contextualização em "Brasil Holandês'
RONALDO VAINFAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Evaldo Cabral de Mello é o
principal historiador do Brasil holandês, discípulo de José Antônio Gonçalves de Mello, que revolucionou os estudos do tema com seu clássico
"Tempo dos Flamengos"
(1947), o primeiro grande livro de história baseado em
pesquisa de fontes originais.
Seguindo a trilha do mestre, Evaldo sempre valorizou
o documento como base do
conhecimento histórico, despreocupado, felizmente, em
provar esta ou aquela teoria.
Evaldo combina sólida
pesquisa documental com
erudição, espírito crítico e capacidade narrativa -as quatro habilidades essenciais de
um grande historiador.
Em certa ocasião, Evaldo
chegou a dizer que a história
é um gênero literário, embora diferente de ficção.
A grande diferença reside
na busca da evidência documental sobre o que aconteceu ou deixou de acontecer.
O mais é matéria de interpretação e, nesse passo, vale
a imaginação do autor, o talento especulativo, a perícia
em decifrar documentos.
"Pas de documents, pas
d'histoire" (se não há documentos, não há história): a
frase de Langlois e Seignobos, tão criticada pelos historiadores do século 20, continua mais viva do que nunca.
DOCUMENTO HISTÓRICO
O autor de "Rubro Veio" e
"Olinda Restaurada", dois
clássicos sobre o tema, dedica-se a expor, neste "O Brasil
Holandês", as possibilidades
que cada tipo de documento
histórico pode oferecer para
a construção historiográfica.
Trata-se de uma coletânea, portanto, mas não de
uma recolha seriada de textos -e o leitor que se vire.
Esta é uma coletânea
acompanhada pelo historiador do início ao fim por meio
de contextualizações.
Pretende -e consegue-
familiarizar o leitor com as
motivações da conquista holandesa e da restauração pernambucana, que são as partes inicial e final da obra.
O miolo se concentra no
governo de Maurício de Nassau -personagem quase mítico de um "Brasil que não
foi"-, prevalecendo documentos políticos, administrativos e econômicos.
A introdução é um primor.
Tipifica os documentos, dentre impressos e manuscritos,
crônicas, cartas e relatórios.
Faz um histórico da documentação, sobretudo a dos
arquivos holandeses, descobertos pela missão de José
Hygino Duarte, sob o patrocínio do governo provincial
pernambucano, em 1885.
Missão que revelou um
manancial de fontes inéditas
e marcou a valorização da experiência colonizadora dos
holandeses como objeto de
pesquisa. Criou a base para
alguns mitos também. Mas
essa é outra história.
RONALDO VAINFAS, autor de "Traição: Um
Jesuíta a Serviço do Brasil Holandês" (Cia.
das Letras), é professor de história moder-na da Universidade Federal Fluminense
O BRASIL HOLANDÊS
ORGANIZADOR Evaldo Cabral de
Mello
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 28 (512 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
Texto Anterior: Crítica/Romance: Heroína juvenil sofre com vilões perversos na Londres vitoriana Próximo Texto: Crítica/Política: Às vésperas da eleição, Maquiavel é guia perfeito para interpretar os poderosos Índice
|