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Peça encenada por detentas recebe R$ 50
da Reportagem Local
"Na minha concepção, o cenário será nu. Até porque não há opções". Assim a professora de teatro Marlene Belmiro (seu nome
artístico é Marla O'Hara) define a
atmosfera cênica de sua montagem de "Morte e Vida Severina",
de João Cabral de Melo Neto.
A peça deve ser encenada nos
dias 14 e 15 de agosto por um grupo de dez presas da Casa de Detenção Feminina do Tatuapé.
O palco será a capela da prisão.
O público, parentes e amigos. Dois
vasos e uma moringa serão os únicos objetos do cenário. A verba cedida pela Funap (Fundação de
Amparo ao Preso), R$ 50, será
usada na compra de pano cru.
Tintas para tingir tecido, oferecidas pela Casa de Detenção, vão
colorir o pano cru antes de ser cortado, costurado e transformado
em figurinos.
O resto é improvisação. "Para
escolher a peça, conversamos
muito, e as presas, em geral, escolhem o tema. Dessa vez, elas queriam fazer algo sobre a fome. Então sugeri "Morte e Vida Severina' ", diz O'Hara, 29.
Sem uma professora, seria quase
impossível a encenação. Uma das
razões é que na biblioteca da Detenção não há sequer uma peça de
teatro. Outra é que, quando falta
alguma coisa, a professora acaba
comprando com dinheiro de seu
próprio bolso.
"Em outras peças, trouxemos
lençóis e quadros de nossas celas
para fazer o cenário. No fim, o
quarto em que se passava a peça
ficou parecendo uma cela", diz
Andressa Pires, 30.
Sílvia Regina, 40, foi mais longe:
inventou um batom. "A personagem tinha que usar maquiagem,
então eu usava guache para pintar
a boca. Só que a tinta rachava e rachava meus lábios junto. Passei a
usar creme para sarar a boca.
Quando percebi, o guache misturou com o creme e ficou molinho,
sem rachar mais."
Sílvia Regina conta que também
já construiu uma roupa de palhaço. Primeiro, costurou um bambolê na cintura de uma calça vermelha bem larga.
Em seguida, enfeitou pintando
bolas brancas. Para usar na cabeça, cortou uma meia bola de borracha e colou vários chumaços de
cabelo de boneca. "Ficou aquela
cabeça engraçada de palhaço",
diz -e ri.
(IF)
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