São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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Peça encenada por detentas recebe R$ 50

da Reportagem Local

"Na minha concepção, o cenário será nu. Até porque não há opções". Assim a professora de teatro Marlene Belmiro (seu nome artístico é Marla O'Hara) define a atmosfera cênica de sua montagem de "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto.
A peça deve ser encenada nos dias 14 e 15 de agosto por um grupo de dez presas da Casa de Detenção Feminina do Tatuapé.
O palco será a capela da prisão. O público, parentes e amigos. Dois vasos e uma moringa serão os únicos objetos do cenário. A verba cedida pela Funap (Fundação de Amparo ao Preso), R$ 50, será usada na compra de pano cru.
Tintas para tingir tecido, oferecidas pela Casa de Detenção, vão colorir o pano cru antes de ser cortado, costurado e transformado em figurinos.
O resto é improvisação. "Para escolher a peça, conversamos muito, e as presas, em geral, escolhem o tema. Dessa vez, elas queriam fazer algo sobre a fome. Então sugeri "Morte e Vida Severina' ", diz O'Hara, 29.
Sem uma professora, seria quase impossível a encenação. Uma das razões é que na biblioteca da Detenção não há sequer uma peça de teatro. Outra é que, quando falta alguma coisa, a professora acaba comprando com dinheiro de seu próprio bolso.
"Em outras peças, trouxemos lençóis e quadros de nossas celas para fazer o cenário. No fim, o quarto em que se passava a peça ficou parecendo uma cela", diz Andressa Pires, 30.
Sílvia Regina, 40, foi mais longe: inventou um batom. "A personagem tinha que usar maquiagem, então eu usava guache para pintar a boca. Só que a tinta rachava e rachava meus lábios junto. Passei a usar creme para sarar a boca. Quando percebi, o guache misturou com o creme e ficou molinho, sem rachar mais."
Sílvia Regina conta que também já construiu uma roupa de palhaço. Primeiro, costurou um bambolê na cintura de uma calça vermelha bem larga.
Em seguida, enfeitou pintando bolas brancas. Para usar na cabeça, cortou uma meia bola de borracha e colou vários chumaços de cabelo de boneca. "Ficou aquela cabeça engraçada de palhaço", diz -e ri. (IF)



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