|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ela é inquieta e acomodada
da Reportagem Local
Duas características definem
Nana Caymmi, e "Resposta ao
Tempo", álbum inspirado, só
faz confirmá-las. A primeira é
o prolongado acomodamento
em que a artista se encontra.
Há anos Nana está fincada
num universo delimitado de
repertório e num universo limitado de arranjos -há anos a
cargo de Cristóvão Bastos.
Isso faz com que seus discos
se escondam deles mesmos. Lá
pela quinta audição começam
a se desvelar segredos e belezas. É tarde para a velocidade
do tempo, e a resposta de Nana
ao tempo é a teimosia.
A segunda característica a socorre. Nana é intérprete ímpar,
que não pára de evoluir um
instante e, ainda, ostenta uma
peculiaridade que nenhuma
outra "dama" MPB possui.
Seu modo de cantar, até no
mais melado dos boleros, é feito de ironia fina, que Bethânia
não possui por desinteresse,
que Gal não possui por incompatibilidade, que Elis não possuía por impossibilidade.
Isso vai ficar evidente em
"Doralinda", bossa esquizofrênica de João Donato e Cazuza, que ela divide com Emílio
Santiago, em gelado dueto de
duelistas que não se encaram.
Um fio de sarcasmo lubrifica
a leitura de Nana. Santiago
-que forma com Leila Pinheiro a dupla-trator, a dupla-dinamite a implodir qualquer
canção em bossa de bar dançante- segue sem nuances.
Instrutiva, a canção deixa entrever o quanto Nana anda devendo à MPB em termos de renovação, de ousadia em repertório e arranjos. Interpretação,
essa já é perfeita.
(PAS)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|