São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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Ela é inquieta e acomodada

da Reportagem Local

Duas características definem Nana Caymmi, e "Resposta ao Tempo", álbum inspirado, só faz confirmá-las. A primeira é o prolongado acomodamento em que a artista se encontra.
Há anos Nana está fincada num universo delimitado de repertório e num universo limitado de arranjos -há anos a cargo de Cristóvão Bastos.
Isso faz com que seus discos se escondam deles mesmos. Lá pela quinta audição começam a se desvelar segredos e belezas. É tarde para a velocidade do tempo, e a resposta de Nana ao tempo é a teimosia.
A segunda característica a socorre. Nana é intérprete ímpar, que não pára de evoluir um instante e, ainda, ostenta uma peculiaridade que nenhuma outra "dama" MPB possui.
Seu modo de cantar, até no mais melado dos boleros, é feito de ironia fina, que Bethânia não possui por desinteresse, que Gal não possui por incompatibilidade, que Elis não possuía por impossibilidade.
Isso vai ficar evidente em "Doralinda", bossa esquizofrênica de João Donato e Cazuza, que ela divide com Emílio Santiago, em gelado dueto de duelistas que não se encaram.
Um fio de sarcasmo lubrifica a leitura de Nana. Santiago -que forma com Leila Pinheiro a dupla-trator, a dupla-dinamite a implodir qualquer canção em bossa de bar dançante- segue sem nuances.
Instrutiva, a canção deixa entrever o quanto Nana anda devendo à MPB em termos de renovação, de ousadia em repertório e arranjos. Interpretação, essa já é perfeita. (PAS)



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