São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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MODA - ANÁLISE
Estilistas crescem com desfiles de verão

ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Afinal, o que vai estar na moda no próximo verão? Depois de 20 desfiles em cinco dias, realizados no Jockey Club de São Paulo dentro do MorumbiFashion Brasil, vemos uma temporada de mudanças na moda brasileira.
Comemorando dois anos de existência, o evento prova que um calendário consolidado de lançamentos era mesmo fundamental para o desenvolvimento do mercado no país. Agora, tecelagens, confecções, estilistas, agências de modelos e mídia precisam (cada vez mais) acertar os ponteiros.
Com essa engrenagem em funcionamento, podemos ver, finalmente, os estilistas em pleno exercício de sua função. Para tanto, os criadores livraram-se de excessos da linguagem e dos exageros na edição dos desfiles. Entraram na passarela as essências das idéias, peças concentradas que, numa só, continham às vezes todo o fundamento do desfile, numa prova de amadurecimento e da valorização da figura do editor ou stylist.
Resultado: desfiles mais curtos e redondos, com poucos básicos e mais fashion (o que as grandes marcas chamam de collection).
As exceções: Ellus e Zoomp, para recuperar o espaço nesse segmento. Conforme se esperava, o tecido (sobretudo os naturais como o algodão e o cru) ditam as novas regras do jogo, valorizando o talento de quem lida com a técnica da moulage e tem criatividade para valorizar os materiais do momento. Aqui, o uso da tecnologia têxtil também vale, com aplicações de silicone, silk etc.
Em termos mais objetivos, em que apostar? Os fashionistas apontam qualquer coisa laranja (ou tangerina, como convém), toda preta ou toda branca, ou em suas combinações. O off-white (variações do branco) faz boa liga, junto ao uso parcimonioso do cinza.
O japonismo (a referência explícita aos mestres Yohji Yamamoto, Comme des Garçons, sobretudo em seu estilo anos 80) também prevalece, aplicado no conceito das novas embalagens do corpo (como na G), da tranquilidade campestre (Renato Loureiro) ou da exploração de forma & material (os jérseis de Walter Rodrigues).
Sexo e nudez não podem faltar ao verão brasileiro, vide Alexandre Herchcovitch e Fause Haten (em temporada revolucionária que não deixou pedra sobre pedra de sua tradicional pompa).
Em termos de estilo, destacam-se ainda as sobreposições étnicas-urbanas da Equilíbrio; a neojuventude fina de Walter Rodrigues; o underwear e os novos smokings de Ricardo Almeida, busca pelo homem mais moderno, também vista na Zoomp, Alexandre Herchcovitch e Beneduci.
A geometria e as linhas das artes plásticas apareceram em criativos desdobramentos formais, sobretudo para Forum e Patachou, junto a M.Officer e Iódice, em diferentes abordagens.
Essa temporada de lançamentos foi marcada pela entrada de novos estilistas dentro de marcas já estabelecidas, num procedimento saudável que ocorre também em grandes marcas do Planeta Fashion. Assim, os jovens criadores se exercitam, pagam suas contas e renovam com o frescor de suas idéias práticas e estilos estagnados.
Com estardalhaço, vimos Alexandre Herchcovitch levantar o gigante Zoomp -poderoso, mas adormecido. Há rumores de que um projeto a médio prazo levaria Herchcovitch a assinar sozinho a criação da grife. Aparentemente, por enquanto, o esquema dá sinais de vigor e bom funcionamento. Nomes como Jum Nakao e Alessia Anzaloni (revelada pelo Phytoervas Fashion) pertencem à atual e azeitada equipe. Seria pena mexer.
Junto ao filhote Zapping, é Marcelo Sommer quem joga lenha na fogueira, assinando pela primeira vez o masculino da marca, também com êxito.
Outra mudança gritante aconteceu na Ellus, que importou da Europa Alexandre Mattos, tirando da grife de Nelson Alvarenga o peso overfashion de outras coleções.
Marcou pontos também a atitude européia, jovem e irônica da coleção da Beneduci, assinada por Henry Alavez.



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