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7º FIAC
Em "Waiting", a coreógrafa japonesa mostra os elos entre as duas culturas ao interpretar a escritora francesa
Ikeda une Ocidente e Oriente com Duras
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
O espetáculo "Waiting", que
Carlotta Ikeda estréia hoje no teatro Sesc Pompéia, dentro do 7º
Fiac (Festival Internacional de Artes Cênicas), revela o encontro entre Ocidente e Oriente que marca a
vida desta dançarina e coreógrafa.
Nascida no Japão, Carlotta começou a estudar dança no início
dos anos 60, na Universidade de
Tokyo. Logo se interessou pelo
trabalho de duas coreógrafas simbólicas da modernidade: a alemã
Mary Wigman e a norte-americana Martha Graham.
Na década seguinte, Carlotta se
tornou uma das principais personalidades do butô, o movimento
artístico que surgiu no Japão no final dos anos 50, estimulado por
Kazuo Ohno e Tatsumi Hijikata.
A partir de 81, Carlotta começou
a se apresentar na França, onde vive atualmente. No Fiac deste ano,
cujo tema é "A Presença do Sagrado nas Artes", ela representa a exceção. Ao contrário das demais
atrações, que estão trazendo a São
Paulo tradições antigas originadas
no Oriente, Carlotta mostra dança
contemporânea, já absorvida pelo
Ocidente.
"Faço parte da geração que
criou o butô, a dança moderna japonesa que significa uma maneira
livre de dançar. Hoje existe uma
segunda geração que se aprisiona
ao rótulo butô. Procuro fugir das
definições", diz a coreógrafa.
Lacônica, Carlotta foge de explicações, sugerindo que sua arte
profundamente interiorizada não
cabe em conceitos fechados.
Segundo a coreógrafa, a integração ao Ocidente é um fato natural
em sua vida. "A arte tem necessidade de influências. Minha dança
não possui nacionalidade, está
além das fronteiras. As influências
entre Oriente e Ocidente são antigas e prevalecem até hoje. Não há
nada de novo."
"Waiting", que estreou em
1996, é um solo interpretado por
ela que se baseia na obra da escritora Marguerite Duras. De nacionalidade francesa, mas nascida na
Indochina, a representação de Duras permite a Carlotta insinuar os
elos entre Ocidente e Oriente.
"Há muito tempo descobri a
obra de Duras, que sempre me tocou muito. Quando lia seus livros,
uma energia percorria todo meu
corpo", diz Carlotta.
Expressando solidão, dor e êxtase, o mistério da existência e da
morte, "Waiting" não se apega
aos conteúdos narrativos da obra
de Duras. "Não quero dançar as
palavras de Duras. A energia que
ela transmite em seus livros é como a de um animal. Suas palavras
são como ossos e músculos. Acho
que seu corpo inteiro está presenta
na escrita."
Para ilustrar seu pensamento,
Carlotta recorre a uma frase de
Duras: "É preciso fechar os olhos
para enxergar com clareza".
A essa afirmação, Carlotta acrescenta: "Quando danço é como se
estivesse vendo dentro de mim,
como se meus olhos estivessem
voltados para dentro do corpo".
Espetáculo: "Waiting"
Com: Carlotta Ikeda
Quando: hoje e amanhã, às 21h; dom., às
18h
Onde: teatro Sesc Pompéia (r. Clélia, 93,
Pompéia, tel. 3871-7700)
Quanto: R$ 10 e R$ 20
Patrocinadores: Grupo Accor, Eletrobrás,
Petrobrás, Volkswagen
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