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"Postcards de Atacama" é apenas um "arroto"
da Reportagem Local
"Eu gosto de arrotar alto", diz
alguém na peça "Postcards de
Atacama", repetidamente. A
montagem se autodescreve como
uma comédia, embora não tenha
graça. No desleixo, no arroto, na
feiúra, teria talvez a forma de um
besteirol -se fosse engraçado.
"Postcards de Atacama"
amontoa "lugares-comuns", o
que anuncia com orgulho durante
a apresentação, e tenta fazer do arroto, da feiúra, supostas qualidades. Qualidades que viriam, anuncia-se, do confronto, até mesmo
do "inconformismo".
Mas o inconformismo de fachada nesta peça -como acontece,
para deixar um paralelo, com os
macetes de um ator maneirista-
mais parece um escudo, proteção
para esconder o que seria, de fato,
verdadeiro e arriscado.
É como um rompante de criança. O inconformismo é dizer a palavra "arroto", o que nem engraçado é. Soa gratuitamente agressivo e, o que é pior, falso.
Mas cada nova fala, no correr da
interminável (embora curta) apresentação, vai escondendo os possíveis sinais de verdade com novas
tiradas grosseiras ou pseudo-irônicas. Uma cena inteira, por
exemplo, com um personagem citando nomes de mulheres conhecidas e fingindo se masturbar.
Não que se passem por ingênuos
como crianças, os personagens
-na verdade, nem se pode falar
em personagens: são caricaturas,
tipos sem maior definição, como
seria próprio de um besteirol. Os
tipos, nada ingênuos, adotam
uma "postura rebelde", com gaita, blues, óculos escuros.
Também não se pode falar em
trama. Como num besteirol, os
quadros tirados do nada -por
exemplo, uma paródia da TV- se
amontoam, só que aqui nem pelo
humor valem.
Por outro lado, em vez de piadas
com homossexuais, como no besteirol corriqueiro, piadas com
mulheres, com palavrões para vagina.
Na interpretação, maneirismos
sem fim. Os atores falam como bêbados. Repetem-se, para preencher o vazio da expressão, nas
mesmas contorções, nas mesmas
caretas e poses.
Os figurinos são desgastados, até
sujos, na verdade, roupas já muito
usadas. Sandálias havaianas -é
esse, em suma, o inconformismo
estético da peça "Postcards de
Atacama", autodescrita como
"comédia pop".
(NS)
Peça: Postcards de Atacama
Texto e direção: Mário Bortolotto
Quando: qui a sáb, às 21h30; dom, às
20h30
Onde: Centro Cultural São Paulo, sala
Paulo Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro,
1.000, tel. 011/277-3611)
Quanto: R$ 12
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