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Kate Lyra lança olhar estrangeiro sobre a bossa
ANNA LEE
da Sucursal do Rio
Para contar a história da bossa
nova e mostrar que o Rio de Janeiro é a única cidade onde ela poderia ter nascido, a atriz Kate Lyra
resolveu escrever, produzir e dirigir o filme "Tempo de Bossa Nova".
"O movimento teve início (no
fim dos anos 50) em uma época
eufórica no Brasil. O Rio ainda era
a capital do país. A música da bossa nova é ao mesmo tempo sofisticada e despretensiosa, assim como
a cidade onde nasceu", diz Kate.
A comemoração dos 40 anos da
bossa nova, completados este ano,
seria motivo suficiente para a realização de qualquer projeto.
Mas Kate quer mais de "Tempo
de Bossa Nova", muito mais.
"Meu filme vai se tornar referência sobre o movimento. Não
será apenas sobre música, mas sobre os últimos 40 anos de história
do Brasil."
O aval para o projeto, ela diz que
recebeu do próprio Vinícius de
Moraes, que a batizou nas águas
de Itapuã, no litoral da Bahia, em
1973, pouco tempo depois que se
mudou dos EUA para o Brasil.
"Senti como se ele estivesse me
assimilando para a cultura brasileira e principalmente para a bossa
nova", diz Kate.
Seu casamento de 28 anos com o
compositor Carlos Lyra, um dos
pioneiros do movimento -o que
lhe permitiu presenciar importantes eventos da bossa nova e conviver com seus personagens-, servirá de trunfo.
Como bagagem profissional, ela
tem cursos de roteiro na Hollywood Experimental School, em
Los Angeles, e com o roteirista Syd
Field, além do prêmio de melhor
roteiro de 1994 da Associação dos
Críticos de Arte de São Paulo por
"A Causa Secreta", escrito com o
cineasta Sérgio Bianchi.
A parceria com a produtora
Quelita Moreno -que está levando para o projeto sua experiência
em filmes como "Coração Iluminado", de Hector Babenco, e com
o produtor executivo Hilton
Kauffmann, que acaba de filmar a
série "Além-Mar"- dá a certeza
de qualidade, garante Kate.
"O Tempo da Bossa Nova"
-orçado em cerca R$ 1,6 milhão e
ainda em fase de captação de recursos- será rodado em 16 mm.
O projeto inclui duas versões:
uma de 90 minutos para o cinema,
que deve ser lançada na França, na
Itália e no Japão, e outra dividida
em cinco programas de 30 minutos para televisão por cabo, no
Brasil, nos EUA e em outros países
da Europa.
"Sou norte-americana e por isso
vivo traduzindo o Brasil para estrangeiros, não só a língua, também a cultura. Mas meu filme não
será de maneira alguma só para inglês ver", disse Kate. "Quero trazer à tona elementos da bossa nova que façam até os brasileiros pararem para pensar sobre a importância do movimento, o que acredito que meu olhar estrangeiro
pode perceber melhor."
"Quando se nasce inserido em
alguma coisa, é mais difícil ter
uma visão crítica sobre ela."
"O Tempo de Bossa Nova" será,
segundo ela, "uma espécie de documentário, porque esse tipo de
formato tem grande aceitação
atualmente".
"Parece que o final do século está despertando saudosismo nas
pessoas, que estão cada vez mais
ávidas por conhecer sua história."
Mas será "sobretudo uma reportagem investigativa". Kate pretende responder o que é esse movimento musical.
"Um ritmo, um suingue, um
balanço? Uma estrutura harmônica? Uma variação do samba? Ou
um estado de espírito?"
Mais. Pretende mostrar que a
bossa nova cantou e contou a história brasileira em suas quatro décadas de existência.
"A música, mais que qualquer
outra arte, indica os caminhos que
a sociedade está seguindo. O Brasil
está impresso não só na poesia da
bossa nova, mas também no seu
formato musical, na sua melodia,
nos tempos de sua harmonia."
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