São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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Kate Lyra lança olhar estrangeiro sobre a bossa

ANNA LEE
da Sucursal do Rio

Para contar a história da bossa nova e mostrar que o Rio de Janeiro é a única cidade onde ela poderia ter nascido, a atriz Kate Lyra resolveu escrever, produzir e dirigir o filme "Tempo de Bossa Nova".
"O movimento teve início (no fim dos anos 50) em uma época eufórica no Brasil. O Rio ainda era a capital do país. A música da bossa nova é ao mesmo tempo sofisticada e despretensiosa, assim como a cidade onde nasceu", diz Kate.
A comemoração dos 40 anos da bossa nova, completados este ano, seria motivo suficiente para a realização de qualquer projeto.
Mas Kate quer mais de "Tempo de Bossa Nova", muito mais.
"Meu filme vai se tornar referência sobre o movimento. Não será apenas sobre música, mas sobre os últimos 40 anos de história do Brasil."
O aval para o projeto, ela diz que recebeu do próprio Vinícius de Moraes, que a batizou nas águas de Itapuã, no litoral da Bahia, em 1973, pouco tempo depois que se mudou dos EUA para o Brasil.
"Senti como se ele estivesse me assimilando para a cultura brasileira e principalmente para a bossa nova", diz Kate.
Seu casamento de 28 anos com o compositor Carlos Lyra, um dos pioneiros do movimento -o que lhe permitiu presenciar importantes eventos da bossa nova e conviver com seus personagens-, servirá de trunfo.
Como bagagem profissional, ela tem cursos de roteiro na Hollywood Experimental School, em Los Angeles, e com o roteirista Syd Field, além do prêmio de melhor roteiro de 1994 da Associação dos Críticos de Arte de São Paulo por "A Causa Secreta", escrito com o cineasta Sérgio Bianchi.
A parceria com a produtora Quelita Moreno -que está levando para o projeto sua experiência em filmes como "Coração Iluminado", de Hector Babenco, e com o produtor executivo Hilton Kauffmann, que acaba de filmar a série "Além-Mar"- dá a certeza de qualidade, garante Kate.
"O Tempo da Bossa Nova" -orçado em cerca R$ 1,6 milhão e ainda em fase de captação de recursos- será rodado em 16 mm.
O projeto inclui duas versões: uma de 90 minutos para o cinema, que deve ser lançada na França, na Itália e no Japão, e outra dividida em cinco programas de 30 minutos para televisão por cabo, no Brasil, nos EUA e em outros países da Europa.
"Sou norte-americana e por isso vivo traduzindo o Brasil para estrangeiros, não só a língua, também a cultura. Mas meu filme não será de maneira alguma só para inglês ver", disse Kate. "Quero trazer à tona elementos da bossa nova que façam até os brasileiros pararem para pensar sobre a importância do movimento, o que acredito que meu olhar estrangeiro pode perceber melhor."
"Quando se nasce inserido em alguma coisa, é mais difícil ter uma visão crítica sobre ela."
"O Tempo de Bossa Nova" será, segundo ela, "uma espécie de documentário, porque esse tipo de formato tem grande aceitação atualmente".
"Parece que o final do século está despertando saudosismo nas pessoas, que estão cada vez mais ávidas por conhecer sua história."
Mas será "sobretudo uma reportagem investigativa". Kate pretende responder o que é esse movimento musical.
"Um ritmo, um suingue, um balanço? Uma estrutura harmônica? Uma variação do samba? Ou um estado de espírito?"
Mais. Pretende mostrar que a bossa nova cantou e contou a história brasileira em suas quatro décadas de existência.
"A música, mais que qualquer outra arte, indica os caminhos que a sociedade está seguindo. O Brasil está impresso não só na poesia da bossa nova, mas também no seu formato musical, na sua melodia, nos tempos de sua harmonia."



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