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CRÍTICA
Sobrevida ao blues
da Redação
Apesar de ter em seu catálogo
músicos como Albert Collins,
Lonnie Brooks e Johnny Winter, a
Alligator reestréia no país com
três lançamentos da série "Deluxe
Edition" que, apesar de não terem
o mesmo reconhecimento daqueles registrados pelos artistas do
começo deste parágrafo, traduzem bem o estilo da gravadora.
Sempre com um pé fincado na
tradição, o gaiteiro William Clarke, a pianista Katie Webster e o
guitarrista Hound Dog Taylor
dão dicas do que pode ser feito
para dar sobrevida ao blues.
Com forte influência dos sons
das big bands jazzísticas, Clarke
(1951-1996) era apontado como o
sopro do futuro até que um ataque cardíaco pôs fim à sua carreira. As 16 faixas do CD "Deluxe
Edition" dedicado a ele deixam isso claro.
Forte, vigoroso e cheio de combinações inusitadas, o fraseado
nos solos do gaiteiro escapa da ditadura iniciada pela gaita de Little
Walter e põe em campo as sutilezas de George "Harmonica"
Smith.
Somado ao vocal rouco e reticente no final das frases, o sopro
de Clarke compõe um mosaico de
idéias extraídas de outros espectros musicais, mas que se amoldam aos quadrantes do blues sem
perder ou roubar a identidade.
Não há faixas que mereçam estar de fora da coletânea, cujo único defeito é ter deixado de fora o
resto da obra do gaiteiro.
Se o catálogo da Alligator é eclético, a pianista e cantora Katie
Webster, 60, é a artista mais eclética do catálogo, como provam as
15 faixas da "Deluxe Edition".
Alguns estilos expostos no disco
ainda nem passaram por uma catalogação definitiva. Só para dar
alguns exemplos, há faixas de
boogie-woogie, rhythm and blues
típico de Nova Orleans e soul com
viés gospel. É claro que o blues
permeia isso tudo.
E não é só da variedade que resulta o interesse no CD de Webster. Ela é uma pianista competente e, sobretudo, dona da voz feminina mais penetrante dedicada ao
blues.
Para fisgar aqueles que ainda
não conhecem o trabalho da cantora, a coletânea acerta ao abrir
com "Two Fisted Mama", música
dona de uma sensualidade brejeira e um balanço capaz de unir avô
e neto na mesma pista de dança.
Daí para a frente, a variedade
domina. Com um dom quase enciclopédico para passear por estilos, Webster executa suas canções
com a autoridade de quem não
precisa provar nada a ninguém,
além de si mesma.
Quando o assunto é Hound
Dog Taylor (1915-1975), é preciso
que o ouvinte de blues seja um
iniciado com alguns anos de contato frequente com esse tipo de
música.
Tocada sem contrabaixo, com
guitarras baratas japonesas e amplificadores comprados em lojas
de departamento, a música de
Taylor é crua, rústica, distorcida e
dona de um suingue contagiante.
Não tem jeito, os novos fãs de
blues vão precisar de algum treino para descobrir a riqueza de
uma música em que a afinação é
mero adereço. Superado esse obstáculo, o ouvinte passa a descobrir que Taylor é um músico para
o qual vale a pena montar uma
gravadora.
Para os veteranos, o CD traz
duas inéditas. Uma delas é um registro ao vivo de "Phillips" Theme", faixa em que o guitarrista de
apoio Brewer Phillips mostra como vale a pena ser apoiado por
ele.
Novos
Depois da primeira fornada, a
Abril já está trazendo mais três títulos da Alligator. Esse pacote,
formado por três CDs, vai contemplar os últimos trabalhos de
músicos da safra mais recente de
estrelas do selo de Chicago.
Trata-se dos mais recentes discos do grupo Kinsey Report
("Smoke and Steel"), da cantora
Shemekia Copeland ("Turn the
Heat Up") e do violonista Corey
Harris ("Greens from the Garden").
(EF)
Avaliação: (Katie Webster) e (Hound Dog Taylor e William Clarke)
Discos: Deluxe Edition, de Katie
Webster, Hound Dog Taylor e William
Clarke
Lançamento: Abril Music
Quanto: R$ 18, em média, cada CD
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