São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000


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Planet Hemp volta a fazer turnê três anos após a prisão em Brasília
Marcelo D2 abre fogo

Marcelo Min/Folha Imagem
Marcelo D2 (à frente) e o Planet Hemp, no centro de São Paulo



Líder da banda continua a defender a legalização das drogas, diz que sofre ameaças de morte e fala de discussão com Caetano


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Planet Hemp estréia amanhã, em São Paulo, no pomposo DirecTV Hall, sua primeira turnê em três anos. É a primeira vez que pega estrada depois da prisão, em 97, por suposta apologia ao uso de drogas. De lá para cá, a banda passou por período de resguardo até lançar, há dois meses, "A Invasão do Sagaz Homem - Fumaça", que já vendeu 100 mil cópias.
Em entrevista, o líder da banda, Marcelo D2, 32, falou à Folha sobre a volta e sobre a briga protagonizada com Caetano Veloso nos bastidores do Video Music Brasil da MTV, em agosto.
O emepebista e sua mulher o teriam chamado de "zé mané" por ele não haver honrado um compromisso de gravar uma participação especial na trilha sonora do filme "Orfeu" (99) e por haver criticado Caetano via imprensa. A mulher de Caetano, Paula Lavigne, confirmou a discussão à Folha na época. Acrescentou que D2 reagiu calado e cabisbaixo.
A Folha procurou ouvir Caetano sobre o caso e as novas críticas de D2, mas sua assessoria de imprensa não se pronunciou até a conclusão desta edição.

Folha - O protesto social aumentou no novo disco do Planet Hemp?
Marcelo D2 -
É, acho que amadurecemos. Tocávamos para 200, 300 pessoas e dávamos de frente com policial na rua. Agora a gente dá de frente com deputados, com delegados. A gente começou a ver um novo mundo, o policial na rua é só uma peça da máquina toda.

Folha - O protesto não é prejudicado pela defesa da maconha?
D2 -
Seria mais fácil de entender o discurso se tirássemos a maconha, mas nossa idéia é abrir a cabeça, acabar com qualquer tipo de preconceito, contra drogas, cor ou diferença social. Se inventou que o drogado é o lado mau. As pessoas não são diferentes porque são pretas, brancas, fumam, cheiram ou bebem. Sou usuário e sei exatamente do que estou falando. A ilegalidade é o problema.

Folha - Os integrantes do Jota Quest afirmam que para eles essa postura é inadmissível.
D2 -
Eu nunca colocaria minha cara para vender a uma corporação como a Fanta Laranja. Não sei se vendemos maconha. É claro que um monte de gente entende errado, mas a maioria gosta mais do ato de subversão que da maconha. Há artistas que adoram coquetéis e namorar modelos. Minha música é asfalto, trilho de trem, salário mínimo, ovo frito, namorada, maconha. A gente nega convite para tocar no Faustão. Aumentaria nosso cachê, mas esses programas de domingo são muito ruins, lavagem cerebral. Não vale a pena fazer parte disso.

Folha - Qual é sua versão da briga com Caetano Veloso?
D2 -
Acho que ele se excedeu um pouco, ficou gritando e querendo brigar. Falou que sou covarde porque falei mal dele pelo jornal, mas nunca encontrei o cara. Então novamente vou falar pelo jornal o que queria falar para ele: que ele tem de sair do centro do mundo e entender que é normal as pessoas não gostarem do som dele. Não é pessoal, nem conheço o cara. Ele tinha de sair desse egocentrismo, de achar que todo mundo está querendo falar mal dele para fazer promoção pessoal.
Ele veio num tom amigável, falou que nosso show foi o melhor, e começamos a discutir. Nisso chegou a mulher dele por trás, daquele tamanho, fortona, gritando "dá um tapa na cara dele". Aí a conversa acabou. O que eu ia fazer, dar um soco em Caetano, brigar na mão com segurança dele?

Folha - Você se amedrontou?
D2 -
Eu tinha acabado de fumar um skank. Não tenho motivo nenhum para ficar batendo boca com ele, tenho problema muito maior para resolver. Vou ter medo dele? Pelo amor de Deus. Por ser uma pessoa inteligente e mais velha, devia ser mais sensato e tentar resolver aquilo.

Folha - Ele reclama que você o deixou esperando no estúdio, sem avisar que não ia. Não tem razão?
D2 -
Tem, mas o grande problema é que por ser Caetano Veloso ele não aceita um "amanhã eu vou". Tem de ser na hora. Não marquei estúdio nenhum. Marcaram para mim e ligaram para minha casa falando: "Você tem de estar lá às sete horas". Não sou empregado de ninguém, não tenho de estar em lugar nenhum, vou na hora que quiser. Não fui. Foi um bolo mesmo. Dei um bolo.

Folha - Não devia desculpas a ele?
D2 -
Mas eu sou furão. Furo com meu filho, com minha mulher, com minha mãe. É horrível, mas sou assim. Não acho uma ofensa tão grande, não acho que devo desculpa. Só peço licença que estou entrando na música, e, se ele acha que o cenário da MPB é dele, então me desculpa. Se não me deixar entrar, meto o pé na porta.

Folha - Você é zé mané?
D2 -
Sou. Zé mané é um cara que não gosta de Caetano Veloso. Não entendo o porquê do zé mané. Não uso esse termo. É otário? Não sei. Ele deve estar satisfeito, brigou com zé mané.

Folha - O que é essa cicatriz na sua testa?
D2 -
Tomei uma paulada num bar, em Passo Fundo. Nem era comigo a briga, mas, quando saí, era campo de guerra, 20 caras com pedaços de pau amarrados no punho. Me fodi, tomei sete pontos.

Folha - Você tem arma?
D2 -
Não tenho arma, odeio. A única vez que usei foi quando servi o Exército. Só fui obrigado a pegar em arma pelo governo, só ele me obrigou a atirar.


Show: A Invasão do Sagaz Homem0-Fumaça Grupo: Planet Hemp Onde: Directv Music Hall (al. dos Jamaris, 213, Moema, tel. 0/xx/11/5643-2500) Quando: sex. e sáb., às 22h, e dom., 20h Quanto: R$ 20 a R$ 40

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