São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000


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FESTIVAL DE VENEZA
Homenagem ao ator conta com documentário, lançamento de filme na Europa e Leão de Ouro
Clint Eastwood filma terceira idade no espaço

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

Uma entrevista coletiva disputadíssima, um documentário biográfico, o lançamento europeu de "Cowboys do Espaço" e um Leão de Ouro pela carreira fizeram ontem o dia do cineasta e ator norte-americano Clint Eastwood, 70. Como lembrou o ator, 38 anos separam seu desembarque aqui em 1962, como coadjuvante de seriados de TV nos EUA, para rodar "Por um Punhado de Dólares" (64) com Sergio Leone e sua consagração com o prêmio máximo desta 57ª Mostra Internacional da Arte Cinematográfica de Veneza.
Eastwood parecia ontem dez anos mais jovem, trajando um elegante terno marinho. Seus colegas de elenco em "Cowboys do Espaço", Donald Sutherland, James Garner e Tommy Lee Jones, também vestiam-se formalmente no evento do início da tarde.
"Sempre achei que estava no meio da carreira", comentou sobre o Leão de Ouro que à noite receberia de Sharon Stone. "Pode ser que (o prêmio) seja uma mensagem de que devo me aposentar." Eastwood reconheceu não ter definido ainda um novo projeto, mas que planeja mais uma década de atividade.
Entre todos os seus filmes -mesmo o arquipremiado "Os Imperdoáveis" (92)-, "Cowboys do Espaço" foi o que alcançou a maior bilheteria de estréia. Os burocratas em Hollywood ainda devem estar indagando as razões. Uma aventura espacial sobre quatro veteranos aposentados da aeronáutica que, aos 70 anos, conquistam a chance de entrar em órbita da Terra não é exatamente uma sinopse tradicional para sucessos adolescentes de verão.
O próprio Eastwood ironiza sua trama ao batizar numa manchete de jornal seu grupo de "The Ripe Stuff", em um trocadilho com o livro de Tom Wolfe ("The Right Stuff") sobre pioneiros do projeto espacial americano levado ao cinema por Philip Kaufman. "Cowboys" dá sequência à revisita aos gêneros realizada por Eastwood desde o início dos anos 90. Não são meros exercícios de estilo.
Ele tem ampliado a fronteira etária do cinema americano, rompendo as fórmulas tradicionais de cada gênero para adequá-los a protagonistas com mais de 60 anos que se assumem como tal.
Foi assim com o faroeste em "Os Imperdoáveis", o drama romântico em "As Pontes de Madison" (1995), o thriller político com "Poder Absoluto" (1997), o policial com "Crime Verdadeiro" (1999) e agora com o filme de ação no espaço (não exatamente ficção científica) com "Cowboys". Em cada um deles, Eastwood encena as forças e fraquezas da "terceira idade", as limitações físicas, as compensações da experiência, as resistências sociais.
Em "Cowboys", há ainda uma incrível sintonia com os temores da hora ao estabelecer como problema a quebra de um satélite soviético pretensamente de comunicações -em plena era da tragédia do submarino Kursk e do incêndio na torre da Ostankino.

Scorsese
Eastwood vem, Scorsese vai. O diretor enviou ontem ao diretor do festival uma mensagem explicando as razões técnicas que inviabilizam o lançamento, no final do evento, de seu documentário televisivo "Il Mio Viaggio in Italia" (Minha Viagem pela Itália). Veneza começou ontem perdendo uma de suas grandes atrações.


O jornalista Amir Labaki está em Veneza a convite da organização do festival


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