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FESTIVAL DE VENEZA
Homenagem ao ator conta com documentário, lançamento de filme na Europa e Leão de Ouro
Clint Eastwood filma terceira idade no espaço
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
Uma entrevista coletiva disputadíssima, um documentário biográfico, o lançamento europeu de
"Cowboys do Espaço" e um Leão
de Ouro pela carreira fizeram ontem o dia do cineasta e ator norte-americano Clint Eastwood, 70.
Como lembrou o ator, 38 anos separam seu desembarque aqui em
1962, como coadjuvante de seriados de TV nos EUA, para rodar
"Por um Punhado de Dólares"
(64) com Sergio Leone e sua consagração com o prêmio máximo
desta 57ª Mostra Internacional da
Arte Cinematográfica de Veneza.
Eastwood parecia ontem dez
anos mais jovem, trajando um
elegante terno marinho. Seus colegas de elenco em "Cowboys do
Espaço", Donald Sutherland, James Garner e Tommy Lee Jones,
também vestiam-se formalmente
no evento do início da tarde.
"Sempre achei que estava no
meio da carreira", comentou sobre o Leão de Ouro que à noite receberia de Sharon Stone. "Pode
ser que (o prêmio) seja uma mensagem de que devo me aposentar." Eastwood reconheceu não
ter definido ainda um novo projeto, mas que planeja mais uma década de atividade.
Entre todos os seus filmes
-mesmo o arquipremiado "Os
Imperdoáveis" (92)-, "Cowboys
do Espaço" foi o que alcançou a
maior bilheteria de estréia. Os burocratas em Hollywood ainda devem estar indagando as razões.
Uma aventura espacial sobre quatro veteranos aposentados da aeronáutica que, aos 70 anos, conquistam a chance de entrar em órbita da Terra não é exatamente
uma sinopse tradicional para sucessos adolescentes de verão.
O próprio Eastwood ironiza sua
trama ao batizar numa manchete
de jornal seu grupo de "The Ripe
Stuff", em um trocadilho com o livro de Tom Wolfe ("The Right
Stuff") sobre pioneiros do projeto
espacial americano levado ao cinema por Philip Kaufman. "Cowboys" dá sequência à revisita aos
gêneros realizada por Eastwood
desde o início dos anos 90. Não
são meros exercícios de estilo.
Ele tem ampliado a fronteira
etária do cinema americano, rompendo as fórmulas tradicionais de
cada gênero para adequá-los a
protagonistas com mais de 60
anos que se assumem como tal.
Foi assim com o faroeste em
"Os Imperdoáveis", o drama romântico em "As Pontes de Madison" (1995), o thriller político com
"Poder Absoluto" (1997), o policial com "Crime Verdadeiro"
(1999) e agora com o filme de ação
no espaço (não exatamente ficção
científica) com "Cowboys". Em
cada um deles, Eastwood encena
as forças e fraquezas da "terceira
idade", as limitações físicas, as
compensações da experiência, as
resistências sociais.
Em "Cowboys", há ainda uma
incrível sintonia com os temores
da hora ao estabelecer como problema a quebra de um satélite soviético pretensamente de comunicações -em plena era da tragédia do submarino Kursk e do incêndio na torre da Ostankino.
Scorsese
Eastwood vem, Scorsese vai. O
diretor enviou ontem ao diretor
do festival uma mensagem explicando as razões técnicas que inviabilizam o lançamento, no final
do evento, de seu documentário
televisivo "Il Mio Viaggio in Italia" (Minha Viagem pela Itália).
Veneza começou ontem perdendo uma de suas grandes atrações.
O jornalista Amir Labaki está em Veneza a convite da organização do festival
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