São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Designer criou móveis do Centro Georges Pompidou
Givenchy muda visual e rejuvenesce com Reinoso

FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pablo Reinoso, o homem que criou, em 1992, o mobiliário do Centro Georges Pompidou, em Paris, agora figura na indústria do luxo. Arquiteto, designer e escultor, ele é o responsável pela mudança das embalagens da marca francesa de cosméticos Givenchy.
A estratégia da grife foi radical. Os novos produtos da linha de maquiagem Rouge Miroir, lançada na Europa há quatro meses e que chega ao mercado nacional a partir de setembro, em nada lembram os antigos.
O dourado foi descartado, dando lugar ao prateado fosco. As formas "ricas e barrocas" foram substituídas por outras "mais modernas e funcionais".
Segundo Reinoso, 44, a proposta era rejuvenescer a Givenchy. "Isso não significava que os produtos passariam a ser usados só por garotas, mas por mulheres contemporâneas, que podem ter de 10 a 80 anos."
O carro-chefe da coleção são os batons. "É o objeto mais comunicativo. Você pode não ter sombra ou pó, mas carrega sempre um batom. A partir dele, foram criadas as outras embalagens."
Revestidos de aço, os estojos dos batons têm o formato de uma bala de revólver, que se assemelha a um objeto fálico, mas elegante. Na tampa, um espelho oval.
Por que a forma de uma bala, um artefato tão perigoso e violento? "A bala é uma ação, um impacto, e a mulher tem muita força e poder. O estojo tem um design forte, erótico e prático."
Cada exemplar do produto vai custar no mercado nacional cerca de R$ 50 -preço equivalente aos seus concorrentes Chanel, Dior e Yves Saint-Laurent. Um batom nacional sai, em média, por R$ 10 (Payot e Marcelo Beauty).
Isabel Brossolette Branco, 38, diretora da Givenchy no Brasil, disse que a linha não chega com preços novos. "O que altera é o público. Queremos conquistar mulheres mais atuais."
As outras embalagens seguem o mesmo conceito definido por Reinoso: a cor prata e um design que agrega praticidade.
Esse é o caso dos frascos de esmalte. O recipiente bojudo tem uma tampa prateada acoplada ao cabo longo do pincel. É uma tentativa de facilitar a pintura das próprias unhas. "Na Europa, há poucas manicures."
Contratado pelo grupo LVMH (Louis Vuitton/Moët Hennessy) há três anos, Reinoso, que é argentino e mora na França há 20 anos, passou os dois últimos pesquisando como transformar a imagem da marca. "Não foi fácil."
O primeiro produto foi o frasco do perfume Oblique, cujo desenho se assemelha a um telefone celular. Cabe na bolsa ou no bolso. "Estamos vivendo uma época nômade, de Internet. A sociedade mudou, e um símbolo dessa mudança é a mobilidade."
Como escultor, Reinoso já expôs seus trabalhos nas bienais de Paris (1982) e Veneza (1993), no Centro Georges Pompidou (Paris-1994) e no Museu de Arte Moderna de Salvador (1996).
Há cinco anos, utiliza como protagonista de suas esculturas, chamadas "respirantes", um elemento inusitado: o ar. Seus trabalhos são peças e ambientes que inflam com ar.
Como arquiteto, Reinoso apenas disse: "Minha formação é de arquiteto, sou um apaixonado pela arquitetura. Mas meu trabalho está no design e na escultura".
Segundo Pablo Reinoso, conciliar arte e design comercial é fácil. "Cada coisa tem o seu mundo, e eu sei os limites. A arte é uma investigação profunda que não precisa responder a algumas perguntas. No design comercial, o artista tem sempre de dar algumas respostas", diz.


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