|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"O CÃO DOS BASKERVILLES"
Na obra, Doyle joga com rede de olhares
MARCELO PEN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando Arthur Conan
Doyle viajou a Devon para
colher material para "O Cão dos
Baskervilles", Sherlock Holmes já
tinha batido as botas. Seu criador
o assassinara numa história anterior, mas a pressão de leitores e
editores o obrigou a "ressuscitá-lo". Decisão acertada, pois o novo
romance logo se tornou o mais famoso da trajetória do detetive.
Doyle encontrou no condado
de Devon, ao sul da Inglaterra, o
cenário perfeito para fincar o solar dos Baskervilles: selvagem, desolado e cercado por charnecas,
outeiros e ruínas neolíticas. A
idéia de usar a lenda local do cão
fantasma foi sugerida pelo amigo
Bertram Fletcher Robinson.
Desta vez, o investigador, fumante inveterado e tocador de
violino, é chamado para deslindar
a estranha morte de sir Charles
Baskerville. O homem parecia ter
sido perseguido por um cão
monstruoso, que, segundo a superstição, vinha assombrando a
família por gerações. Mas Holmes
percebe que, atrás de tudo, existia
uma mente engenhosa e mortal.
Doyle mantém o herói boa parte do tempo nos bastidores, e o
companheiro Dr. Watson toma a
dianteira. A ausência de Holmes
faz parte de um elaborado truque
narrativo. Um dos vários do livro.
Em quase dois terços da história, Doyle monta um jogo de gato
e rato sustentado por uma rede de
olhares, de forma que quem espiona pode descobrir-se espionado. Num dado momento, um foragido da polícia está sendo observado por Watson, que está
sendo observado por Holmes,
que está sendo observado por outro personagem, que imagina que
o detetive é o tal foragido. A ironia
com que o círculo de olhares termina não escapa ao leitor atento.
Esses recursos narrativos não
constituem o essencial da trama.
Doyle buscava divertir os leitores.
E consegue, com o suspense, reviravoltas e a atmosfera lúgubre de
um conto de horror. Além, é claro, dos torneios dedutivos que fizeram a fama de Holmes.
Doyle é herdeiro de Edgar Allan
Poe. Segundo boa parte da crítica
especializada, o escritor americano inaugurou o gênero com "Os
Crimes da Rua Morgue". A figura
de Holmes foi também inspirada
em Monsieur Auguste Dupin, o
excêntrico detetive de Poe.
As semelhanças são maiores em
"O Cão dos Baskervilles" pelo aspecto bestial do caso. A fera de
Doyle tem, no orangotango assassino de Poe, um antecedente zoológico na área criminal.
Avaliação:
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Trecho Índice
|