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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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"BALL OF FIRE"

TV salvou carreira da melhor comediante americana

DO "NEW YORK TIMES"

H ouve uma época em que o cabelo ruivo era visto praticamente como garantia de humor absurdo. Homens apelidados de "Red" ("ruivo") -"Red" Skelton, "Red" Buttons, etc.- faziam palhaçadas em palcos e nas telas do cinema, seus cabelos brilhando com a promessa de maluquices, como a crista do Pica-Pau.
Mas o maior humorista ruivo do século 20 não foi homem nem tampouco personagem de quadrinhos, e sim uma bela mulher chamada Lucille Ball (1911-1989), que, após uma carreira agitada -mas não exatamente estelar- no cinema, voltou-se para a TV, em 1951, e mostrou aos sujeitos apelidados de ""Red", ao Pica-Pau dos desenhos e a milhões de telespectadores como se fazia humor.
O veículo para essa demonstração foi, é claro, "I Love Lucy", uma sitcom doméstica de meia hora de duração na qual Ball fazia par com seu marido, o bandleader cubano Desi Arnaz. "I Love Lucy" teve seis temporadas extraordinárias, mais três anos adicionais de especiais de Lucy e Desi de uma hora de duração. A festa só chegou ao fim em 1960, quando os dois se divorciaram.
Cerca de um terço da biografia de Lucille Ball redigida por Stefan Kanfer, "Ball of Fire" ("Bola de Fogo"), é dedicada aos anos em que Lucille fez "Lucy", e está certo que seja assim. Pois foram esses nove anos que Lucille Ball passou representando Lucy Ricardo que justificam sua imortalidade; nada do que ela fez antes ou depois, em seis décadas como atriz, a teria feito ingressar no Hall da Fama da comédia, pelo menos não num primeiro turno de votação.
Ela tivera poucas oportunidades de demonstrar suas habilidades na telona, tanto assim que estava louca para começar. E, pelo fato de não ter chegado à televisão com toda uma bagagem de rotinas cômicas já estabelecidas e gastas, tudo o que ela fazia em "I Love Lucy" parecia novo e refrescante.
E por que não deu certo no cinema? A resposta é simples: a Hollywood da época não gostava muito de mulheres comediantes, por mais brilhantes que fossem; e a própria Lucille Ball, quando jovem, sendo bonita o suficiente para pelo menos tentar o estrelato do modo convencional, talvez não tivesse desejado isso para si.
Lucille Ball possuía -ou era possuída por- o puro espírito da comédia, qualidade quase inédita numa mulher de sua época e ainda rara hoje. Em "Ball of Fire", Kanfer procura defender a tese de que a influência dela continua, mas as evidências a favor são poucas. O humor continua sendo em grande medida coisa de homens.


Tradução Clara Allain

BALL OF FIRE. De: Stefan Kanfer. Editora: Hardcover. Quanto: R$ 110, em média. Onde encomendar: www.livcultura.com.br ou www.amazon.com.


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