São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Crítica/"Encontros ao Acaso"

Drama independente evita encarar a dor

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A cusa-se o cinema industrial de incentivar o consumo de álcool (bem como de tabaco). A mão que afaga, no entanto, é a mesma que bate: de "Farrapo Humano" (1945) a "Despedida em Las Vegas" (1995), é grande a lista de filmes que tratam de causas e efeitos da dependência química com a preocupação, ainda que periférica, de falar sobre os estragos. "Encontros ao Acaso" (2006), por exemplo, não trata estritamente de alcoolismo, mas o problema está o tempo todo nas entrelinhas e, às vezes, em primeiríssimo plano das feridas que os personagens fazem aos outros e a si próprios.
Lucy (Ashley Judd) diz que já não se lembra mais de quando beijou alguém sem estar bêbada, o que funciona como um cartão de visitas para a sua solidão, para a falta de alternativas na cidade onde vive, no Arkansas, e para a ironia que lhe permite tocar o barco adiante.
Seu pai retornou à cidade, mas não quis avisar a filha. Ela parece preocupada com os traços depressivos dele, mas ele não está disposto a investir em laços familiares. Seus refúgios são álcool, música e religião.
A rotina de Lucy é acompanhada de acordo com o andamento característico de produções norte-americanas independentes: trabalho (em uma empreiteira), homens (que ela conhece ou reencontra no bar da cidade), amiga também solitária (Laura Prepon) e o que restou da família vão desenhando o perfil da personagem.
Em sua estréia como diretora e roteirista, a atriz Joey Lauren Adams ("Procura-se Amy") nutre evidente simpatia pelo destino de Lucy. É o que sustenta o filme e, ao mesmo tempo, limita o seu alcance, como se não houvesse disposição para encarar a dor.


ENCONTROS AO ACASO
Direção:
Joey Lauren Adams
Produção: EUA,2006
Com: Ashley Judd, Jeffrey Donovan
Quando: em cartaz no Frei Caneca Unibanco Arteplex e Cine Bombril
Avaliação: regular


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