São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Crítica

Filme tropeça ao enfocar paternidade

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A indústria do audiovisual nunca se cansa de repetir a lição de que vale mais prolongar a vida de uma galinha dos ovos de ouro que encher um galinheiro a cada estação.
Logo, depois de se impor como um dos grandes sucessos do cinema brasileiro, não parecia arriscado explorar, na TV, parte da estrutura ficcional, de produção e um pouco da estética de "Cidade de Deus".
De fato, são inegáveis as qualidades das quatro temporadas da série "Cidade dos Homens".
Agora, é a vez de testar a eficácia do projeto no cinema. A questão é que, por mais que uma narrativa moldada para a TV tenha obtido bons frutos, sua conversão para a linguagem cinematográfica não se realiza apenas com a expansão de um episódio para a duração de um longa.
A transformação se impõe igualmente em termos de dramaturgia e encenação.
Enquanto a série de TV até avançava em relação ao filme "Cidade de Deus" com a adoção de um recorte dramático focado no cotidiano da comunidade favela, o filme abandona essa proximidade para buscar outra dimensão que nunca encontra.
A escolha de um tema universalizante -a paternidade- tem como efeito o esvaziamento da representação das questões concretas e interessantes que a série trazia (como no excelente episódio "Uólace e João Vitor"), pois afasta seus personagens do ponto de reflexo do coletivo para se concentrar em suas psicologias.
Pior, a reintrodução, como motor dramático, do efeito trágico das lutas de gangues coloca o filme em comparação direta com "Cidade de Deus", sem que consiga repetir nem a surpresa nem o dinamismo provocados pelo original em sua época.


CIDADE DOS HOMENS
Produção:
Brasil, 2007
Direção: Paulo Morelli
Com: Douglas Silva, Darlan Cunha, Jonathan Haagensen
Quando: em cartaz no Bristol, Espaço Unibanco e circuito
Avaliação: regular


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