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Crítica
Filme tropeça ao enfocar paternidade
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
A indústria do audiovisual nunca se
cansa de repetir a
lição de que vale mais prolongar a vida de uma galinha dos ovos de ouro que
encher um galinheiro a cada estação.
Logo, depois de se impor
como um dos grandes sucessos do cinema brasileiro, não parecia arriscado
explorar, na TV, parte da
estrutura ficcional, de produção e um pouco da estética de "Cidade de Deus".
De fato, são inegáveis as
qualidades das quatro
temporadas da série "Cidade dos Homens".
Agora, é a vez de testar a
eficácia do projeto no cinema. A questão é que, por
mais que uma narrativa
moldada para a TV tenha
obtido bons frutos, sua
conversão para a linguagem cinematográfica não
se realiza apenas com a expansão de um episódio para a duração de um longa.
A transformação se impõe
igualmente em termos de
dramaturgia e encenação.
Enquanto a série de TV
até avançava em relação
ao filme "Cidade de Deus"
com a adoção de um recorte dramático focado no cotidiano da comunidade favela, o filme abandona essa proximidade para buscar outra dimensão que
nunca encontra.
A escolha de um tema
universalizante -a paternidade- tem como efeito
o esvaziamento da representação das questões
concretas e interessantes
que a série trazia (como no
excelente episódio "Uólace e João Vitor"), pois
afasta seus personagens
do ponto de reflexo do coletivo para se concentrar
em suas psicologias.
Pior, a reintrodução, como motor dramático, do
efeito trágico das lutas de
gangues coloca o filme em
comparação direta com
"Cidade de Deus", sem que
consiga repetir nem a surpresa nem o dinamismo
provocados pelo original
em sua época.
CIDADE DOS HOMENS
Produção: Brasil, 2007
Direção: Paulo Morelli
Com: Douglas Silva, Darlan Cunha, Jonathan Haagensen
Quando: em cartaz no Bristol, Espaço Unibanco e circuito
Avaliação: regular
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