São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ciclo exibe mundo de Vincente Minnelli

Quinze filmes do cineasta norte-americano, mestre do gênero musical, estão em mostra no CCBB, em São Paulo

Diretor também fez comédias e dramas; mostra traz obras como "Madame Bovary" e "Assim Estava Escrito"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É possível que para Vincente Minnelli (1903-1986) a vida e o espetáculo fossem uma coisa só. Poucos filmes exprimem essa ideia tão claramente quanto "O Pirata" (1948), em que Judy Garland faz Manoela, garota que vive sonhando ser raptada por um pirata.
Mas quem aparece na ilha onde vive a moça é um saltimbanco (Gene Kelly), que se aproveita da confusão e, para seduzir Manoela, se faz passar pelo pirata.
Para Minnelli, é uma propriedade do espetáculo apropriar-se da vida. Não é bem que se aproprie: o espetáculo absorve a vida, pois é sublimação, sua transformação em arte.
Não é de espantar que, num cineasta, esse tipo de olhar para as coisas o conduzisse aos musicais. E Minnelli foi um mestre do gênero. Como escreveu Jorge Coli, os "musicais de Minnelli celebravam o triunfo do imaginário sobre o real".
Qualquer aspecto, mesmo o trivial, podia ser transformado em um balé: "O mundo era um palco e pertencia àqueles que sabiam cantar e dançar".
Mas Minnelli, como bem mostrará o ciclo de 15 filmes que começa hoje em São Paulo, estava longe de ser apenas um cineasta do musical. É notável sua capacidade de transitar à comédia (as melhores, como "Essa Loura Vale Um Milhão" , de 1960, ficaram fora do ciclo) ou ao drama sem trair suas ideias.
Uma obra-prima como "Assim Estava Escrito" (1952), por exemplo, tem como tema o próprio cinema, ou antes: a maneira como um candidato a produtor pisa em cima de todo mundo, trai seu amigo, destrói sua estrela para chegar a seu objetivo, o único que conta para ele: a reconstrução da vida em imagens.
Será esse homem tão diferente da Emma Bovary de "Madame Bovary" (1949), que não suportava a vida que tinha diante dela e só vivia em seus sonhos?
E o que dizer de "Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse" (1962), saga de uma família dividida entre nazistas e resistentes na França ocupada da Segunda Guerra?
Na tragédia ou na comédia, na guerra ou na paz, Minnelli foi um autor decorativo, para quem o cenário e as cores eram fundamentais. Como disse o crítico Jean Douchet, não é estranho que tenha feito carreira na MGM, o mais poderoso dos estúdios da época, nem que tenha chegado ao cinema pelas mãos do produtor Arthur Freed (1894-1973), de quem foi parceiro na revolução dos musicais, nos anos 1940.
Mesmo trabalhando na Metro, estúdio que costumava controlar seus cineastas com mão de ferro, os filmes deste ciclo mostrarão o quanto Minnelli foi autor. Que o diga "A Roda da Fortuna", belíssimo musical de 1953 sobre os musicais da Broadway.
Mais do que isso, porém, homenagem ao velho musical de cinema dos anos 1930. Com Minnelli, não raro, o ponto de partida e de chegada do espetáculo era o próprio espetáculo. Esse era seu mundo.

VINCENTE MINNELLI
QUANDO de hoje a 11/9
ONDE CCBB (Rua Álvares Penteado, 112; tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO R$ 4


Texto Anterior: The Pains of Being Pure at Heart traz seu pop barulhento ao Brasil
Próximo Texto: Destaques da mostra
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.