São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999
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FESTIVAL
Público sofre e se angustia no Reading

LÚCIO RIBEIRO
enviado especial a Reading (Inglaterra)

Alguém deveria processar os organizadores do Reading Festival, gigantesco evento de música pop que aconteceu sexta, sábado e domingo últimos na cidadezinha a oeste de Londres.
Tudo bem que o tradicional festival britânico manteve a nobre função de deixar viva a chama do rock, movimentando toda a indústria da música do planeta com uma impressionante reunião de boas bandas, elevando a venda de CDs às alturas e blablablá.
Mas, por outro lado, o Reading 99 mostrou um lado "criminoso", matando, de cansaço e angústia, boa parte do público.
Cansaço porque o Reading Festival, celebração ao ar livre de três dias, 150 atrações e 100 mil pessoas em uma fazenda, exigiu condicionamento físico de atleta.
Era preciso muito gás para percorrer os quatro palcos do "complexo" do festival, que despejavam sem parar, por cerca de 12 horas diárias seguidas, ótimos shows do britpop, as últimas da eletrônica, apresentações de bandas da velha geração do pop, rap da melhor qualidade, a nova onda escocesa e mais e mais. Angústia porque era comum ter de escolher um entre três bons shows que aconteciam ao mesmo tempo.
Na sexta-feira, o que fazer quando o mesmo lugar, no mesmo horário, abrigava o show do velho e bom Echo & The Bunnymen no palco principal, enquanto a sensacional Guided by Voices, depois o The Fall, davam o sangue no segundo palco, no exato instante em que, a alguns passos dali, na tenda dance, o Dee Jay Punk-Roc preparava a cena para a apresentação da histórica Sugarhill Gang?
No domingo, no badalo das 21h, a garotada punk do Offspring mostrava o som do megassucesso "Americana" para um público entusiasmado, ao mesmo tempo que os heróis indie Flaming Lips encantavam o lotado segundo palco, e o japonês eletrônico Cornelius chacoalhava a tenda dance.
Choradeira à parte, o Reading Festival 99 proporcionou a grande volta da banda Elastica, que na sexta mostrou excelente forma.
O sábado foi do mega Blur que, de modo apoteótico, fechou o dia do palco principal, aberto de manhã com a urgência punk do Atari Teenage Riot.
No mesmo sábado, a excelente banda escocesa Idlewild revivia a adoração do Nirvana, em show no segundo palco, na hora exata em que a conterrânea Delgados tocava no quase vazio terceiro palco. Na tenda dance, M-ziq, Les Rythmes Digitales, Roni Size e seu Breakbeat Era, mais Gusgus se apresentavam intercalados pelo ótimo DJ Plastic Fantastic Machine, que mantinha a tenda lotada.
No domingo, o som do palco principal pesou, em noite fechada com inspirados shows do Offspring e Red Hot Chili Peppers. Mais bandas americanas engataram inesquecível sequência no palco secundário: Fountains of Wayne, Luscious Jackson, Sparklehorse e Flaming Lips, ordem quebrada apenas pela inclusão da banda escocesa Arab Strap, em ensurdecedora apresentação cósmica, densa, viajante.
E, pelo que foi possível acompanhar com apenas um par de olhos e pernas, foi isso.


O jornalista Lúcio Ribeiro viajou a convite da gravadora EMI


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