PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Depois dizem que o tempo não pára. The B-52's, em São Paulo, no sábado, eram pura nostalgia -primeiro por trazer de volta o mais colorido espírito new wave da geração 79, mas, principalmente, porque chamavam um Brasil de 14 anos atrás, do (pré)histórico Rock in Rio.
O Brasil parece bastante mudado. Se só naquela ocasião a maioria dos adolescentes que chegava muito tarde à new wave ouvia, pela primeira vez, aquele bando de malucos cantando "Private Idaho" (80), agora a maioria globalizada canta junto, em coro.
Por um lado, o Brasil parece encolhido. O megafestival de 1985 não acontece mais; hoje, para acompanhar os B-52's, só a baiana Daúde. Ficou esquisito, é claro. A moça é linda, sensual, bem-vestida, talentosa, mas está em outra sintonia e não tinha muito a ver com o espírito da coisa.
E o espírito da coisa, em si, mostrou que o tempo pára não parando. A grande imagem é a da vocalista Kate Pierson -sua alma gêmea, Cindy Wilson, ficou em casa tendo neném, e a substituta, de peruca sonsa e minivestido oncinha, nem merece menção-, muitos quilos mais roliça, plácida e minimizando os movimentos em medida de economia.
O que parece essa mulher? Uma superstar, tanto quanto a colega Debbie Harry (homenageada em "Debbie", 98), de voz extraordinária ("Rock Lobster", 79, a mais maluca de todas as canções pop, chega à ópera em sua garganta), roupas rosa e azul, peruca ruiva.
Par perfeito, ainda, é o líder Fred Schneider, duplo oposto de Kate, ainda magro, hiperativo, roupas laranja e vermelho, um bufão. Tudo somado, o que há 14 ou 20 anos parecia imagem boboca e futilidade pop hoje não é menos que uma das grandes bandas do planeta, mesmo decadente.
O que fica disso aí? De "Planet Claire" (79) a "Channel Z" (89), os B-52's (ainda) praticam pop em alto grau de depuração. Era e é questão musical, muito mais que de imagem e tolice, e disso a avassaladora figura gorduchinha de Kate é a mais bonita metáfora.

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