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Chega ao Brasil CD de Ivo Perelman de 96
CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha
Gravado em 96, chega às lojas
esta semana o CD "Aquarela do
Brazil", do músico brasileiro Ivo
Perelman. Radicado há mais de
20 anos nos Estados Unidos, o saxofonista, 38, é constantemente
comparado ao músico John Coltrane (1926-1967) que, como ele,
tocava sax tenor.
O CD conta ainda com o baterista Rashied Ali, o pianista Matthew Shipp e os percussionistas
Cyro Baptista e Guilherme Franco
-Rashied Ali, aliás, foi o último
baterista de Coltrane.
Embora, como Coltrane, tenha
se notabilizado pelo sax tenor, foi
com o violão que Perelman iniciou-se musicalmente.
"Comecei a estudar violão clássico aos 9 anos. Aos 16 dei uma pirada, porque não sentia estar me
expressando bem por meio daquele som", disse o compositor,
em entrevista à Folha, por telefone, de sua casa, em Nova York.
À procura de um som "mais para fora" e "mais poderoso", Perelman passou pelo violoncelo, pela
clarineta e pelo piano, até chegar
ao saxofone.
"Antes tive um sax alto, mas
quando botei o tenor na boca decidi que era aquele o som grande
que eu tanto procurava", disse o
músico, que desde os 18 se dedica
a esse instrumento.
Em 81, abandonou a faculdade
de arquitetura que cursava no
Brasil para aprender como construir boa música, matriculando-se na escola de música Berklee,
em Boston, nos Estados Unidos.
"Fiquei um ano lá, mas não fui
um aluno muito bom. Acho que
tirava "zero" em tudo, porque o
que eu queria mais era tocar. Naquela época, a música era um processo mais orgânico e visceral para mim", falou o músico, que deu
prosseguimento a seus estudos
no Canadá, mas os finalizou apenas em 86, na Califórnia.
Em 89, estimulado pelo músico
Martin Cristal, gravou seu primeiro CD, "Ivo", com cantigas de
roda brasileiras. Motivado pela
boa repercussão causada por esse
lançamento, Perelman mudou-se
para Nova York.
Desde então, o compositor já
gravou 20 discos, sempre conquistando inúmeros elogios da
crítica especializada em jazz.
"Aquarela do Brazil" é, segundo
seu autor, uma tentativa de juntar
dois mundos aparentemente heterogêneos. "A tradição de percussão do Brasil, representada pelo Guilherme e pelo Cyro, e a tradição do free jazz americano, representada pelo Rashied Ali, se
fundem", disse o músico, que em
várias faixas toca em duo com o
pianista Matthew Shipp.
No total são 12 faixas, entre elas
"Desafinado", "Aquarela do Brasil" e composições próprias, gravadas de "prima".
"Não gosto de tocar com os músicos antes de gravar. Gravo tudo
na hora. Isso cria uma tensão nervosa e criativa muito fértil, que
sempre resulta em um bom trabalho", disse o músico, que tem a espontaneidade como marca registrada e faz música de uma maneira mais linear do que vertical, sem
sugerir tanto a harmonia.
Disco: Aquarela do Brazil
Artista: Ivo Perelman
Lançamento: Atração
Quanto: R$ 18, em média
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