|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CD
Roda criada pelo compositor Moacyr Luz no clube Renascença, no Rio, ganha álbum; em 2006, deve ser lançado o DVD
"Samba do Trabalhador" apresenta pagode democrático
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Quando a Folha, em 18 de julho deste ano, registrou o sucesso do "Samba do Trabalhador", cerca de 300 pessoas iam ao
clube Renascença nas tardes de
segunda-feira. Hoje, exatos cinco
meses depois que o compositor
Moacyr Luz criou a roda de samba, mais de 2.000 deverão estar no
quintal do Andaraí (zona norte
do Rio), a se julgar pelo público
das últimas semanas.
Mais: está saindo o CD da roda
e, em 2006, virá o DVD. O sucesso
alterou algumas características da
festa, que hoje tem microfones e
cobrança de ingresso. Mas não se
violou a idéia de um pagode democrático, no qual todos podem
cantar, especialmente autores de
qualidade com pouco acesso a
gravadoras e casas de show.
Daí que "Renascença Samba
Clube - Samba do Trabalhador",
o CD, não seja um aproveitamento comercial de um fenômeno espontâneo, mas um desdobramento coerente da idéia original
de Luz. O CD permite que os tais
autores de qualidade ganhem um
pouco de atenção.
É só um pouco mesmo, porque
é uma faixa para cada cantor, modelo conhecido, no jargão fonográfico, como pau-de-sebo -foi
em um desses, "Raça Brasileira",
de 1985, que se iniciou a carreira
de Zeca Pagodinho, então já conhecido em rodas semelhantes às
do Renascença.
Não por acaso, o CD começa
com Luiz Carlos da Vila, um dos
melhores compositores da geração de Zeca -e de todas as gerações do samba. É como se ele
abrisse as portas para outros mais
novos ou menos conhecidos.
Também não parece casual que
ele cante o clássico "O Sonho Não
Acabou", homenagem a Candeia
(1935-1978), que pregava focos de
exercício (ou de defesa, diriam alguns) do samba e da cultura popular como é o Renascença.
E dois sambas de Candeia estão
no disco: "Mil Réis", gravado por
Marquinho Santanna, e "Pintura
sem Arte", por Renato Milagres,
sobrinho de Zeca Pagodinho -e
os elos vão se encaixando em uma
corrente de não-acasos.
Santanna está em um time do
CD: o dos que estão na estrada há
algum tempo e ainda não conquistaram o que poderiam ter. É o
time de Efson, Bandeira Brasil, Zé
Luiz, Adilson Bispo, Riko Dorilêo
e Pedrinho da Flor. Milagres está
no time da garotada, ao lado de
Gabriel Cavalcante, Luciano Macedo -que canta um samba dos
também jovens Abel Luiz e Daniel
do Cavaco- e Wandinho. Um time de talento, mas que aparece
reverenciando só o passado em
suas músicas. É importante que
também façam o samba de seu
próprio tempo.
Há casos que parecem fora dos
dois times: Toninho Geraes, que
tem feito sucesso na voz de Zeca
("O Seu Balancê", "Pago pra
Ver"), mas é pouco conhecido como cantor; Wanderley Monteiro
e Bira da Vila, que vêm confirmando o potencial de ótimos
compositores; e Luiza Dionísio,
cantora de muita qualidade e
pouca projeção. O disco fecha
com "Cabô", cantada pelo "anfitrião" Luz. Com a ajuda de Rildo
Hora na regência, ele produziu
um CD equilibrado: com clima de
roda de samba, incluindo coro informal e acompanhamento musical "sujo", sem a assepsia dos estúdios, mas com qualidade para
que vozes, melodias e letras sobressaiam ao alarido.
Como todo pau-de-sebo, tem
altos e baixos. Mas a unidade se
encontra na proposta, nos objetivos, na busca de uma música tão
boa quanto digna.
Renascença Samba Clube - Samba do Trabalhador
Artistas: Moacyr Luz, Luiz Carlos da Vila e outros
Gravadora: Lua Music
Quanto: R$ 23, em média
Texto Anterior: Show: Peyroux foge dos "esquemas" da indústria Próximo Texto: 29ª Mostra de Cinema: Comédia de Jarmusch foge do caricatural Índice
|