São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CD

Roda criada pelo compositor Moacyr Luz no clube Renascença, no Rio, ganha álbum; em 2006, deve ser lançado o DVD

"Samba do Trabalhador" apresenta pagode democrático

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Quando a Folha, em 18 de julho deste ano, registrou o sucesso do "Samba do Trabalhador", cerca de 300 pessoas iam ao clube Renascença nas tardes de segunda-feira. Hoje, exatos cinco meses depois que o compositor Moacyr Luz criou a roda de samba, mais de 2.000 deverão estar no quintal do Andaraí (zona norte do Rio), a se julgar pelo público das últimas semanas.
Mais: está saindo o CD da roda e, em 2006, virá o DVD. O sucesso alterou algumas características da festa, que hoje tem microfones e cobrança de ingresso. Mas não se violou a idéia de um pagode democrático, no qual todos podem cantar, especialmente autores de qualidade com pouco acesso a gravadoras e casas de show.
Daí que "Renascença Samba Clube - Samba do Trabalhador", o CD, não seja um aproveitamento comercial de um fenômeno espontâneo, mas um desdobramento coerente da idéia original de Luz. O CD permite que os tais autores de qualidade ganhem um pouco de atenção.
É só um pouco mesmo, porque é uma faixa para cada cantor, modelo conhecido, no jargão fonográfico, como pau-de-sebo -foi em um desses, "Raça Brasileira", de 1985, que se iniciou a carreira de Zeca Pagodinho, então já conhecido em rodas semelhantes às do Renascença.
Não por acaso, o CD começa com Luiz Carlos da Vila, um dos melhores compositores da geração de Zeca -e de todas as gerações do samba. É como se ele abrisse as portas para outros mais novos ou menos conhecidos.
Também não parece casual que ele cante o clássico "O Sonho Não Acabou", homenagem a Candeia (1935-1978), que pregava focos de exercício (ou de defesa, diriam alguns) do samba e da cultura popular como é o Renascença.
E dois sambas de Candeia estão no disco: "Mil Réis", gravado por Marquinho Santanna, e "Pintura sem Arte", por Renato Milagres, sobrinho de Zeca Pagodinho -e os elos vão se encaixando em uma corrente de não-acasos.
Santanna está em um time do CD: o dos que estão na estrada há algum tempo e ainda não conquistaram o que poderiam ter. É o time de Efson, Bandeira Brasil, Zé Luiz, Adilson Bispo, Riko Dorilêo e Pedrinho da Flor. Milagres está no time da garotada, ao lado de Gabriel Cavalcante, Luciano Macedo -que canta um samba dos também jovens Abel Luiz e Daniel do Cavaco- e Wandinho. Um time de talento, mas que aparece reverenciando só o passado em suas músicas. É importante que também façam o samba de seu próprio tempo.
Há casos que parecem fora dos dois times: Toninho Geraes, que tem feito sucesso na voz de Zeca ("O Seu Balancê", "Pago pra Ver"), mas é pouco conhecido como cantor; Wanderley Monteiro e Bira da Vila, que vêm confirmando o potencial de ótimos compositores; e Luiza Dionísio, cantora de muita qualidade e pouca projeção. O disco fecha com "Cabô", cantada pelo "anfitrião" Luz. Com a ajuda de Rildo Hora na regência, ele produziu um CD equilibrado: com clima de roda de samba, incluindo coro informal e acompanhamento musical "sujo", sem a assepsia dos estúdios, mas com qualidade para que vozes, melodias e letras sobressaiam ao alarido.
Como todo pau-de-sebo, tem altos e baixos. Mas a unidade se encontra na proposta, nos objetivos, na busca de uma música tão boa quanto digna.


Renascença Samba Clube - Samba do Trabalhador
    Artistas: Moacyr Luz, Luiz Carlos da Vila e outros
Gravadora: Lua Music
Quanto: R$ 23, em média


Texto Anterior: Show: Peyroux foge dos "esquemas" da indústria
Próximo Texto: 29ª Mostra de Cinema: Comédia de Jarmusch foge do caricatural
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.