São Paulo, segunda-feira, 31 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUADRINHOS

Coletânea da Devir com dez histórias reúne nova geração de quadrinistas em torno da temática do faroeste

Brasileiros visitam o oeste em "Bang Bang"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Índios, pistoleiros, donzelas, desertos, saloons... toda a simbologia típica do Velho Oeste norte-americano está retratada em "Bang Bang", coletânea com dez histórias em quadrinhos que a Devir está lançando no Brasil, após ter sido lançada nos EUA pela editora Terra Major.
Mas quem está acostumado a HQs de faroeste como "Tex" e "Ken Parker" vai se surpreender com o material de "Bang Bang": a coletânea reúne vários expoentes da nova geração de quadrinhos brasileiros e uma trinca de americanos que levam a mitologia do Oeste e seus personagens arquetípicos para novos padrões -tanto nas ilustrações (todas em preto-e-branco) quanto nos roteiros.
Como bem define o especialista Primaggio Mantovi em sua ótima introdução, "a grande corrida para o Oeste pode ser considerada o nascimento da nação americana e de sua história. Nasceu o culto do "self-made man", mas também aquele do fora-da-lei". Mas essa temática tipicamente norte-americana traz embutida em si uma série de questões filosóficas -sobre vida e morte, lealdade e justiça, amor e ódio- que dizem respeito à história humana, donde se entende o interesse e a pertinência do faroeste além das fronteiras dos Estados Unidos.
É sobre esses valores universais que falam as histórias de "Bang Bang". O amor e sua dimensão trágica, por exemplo, estão nos textos de Fábio Moon ("Ninguém Olhará por Nós") e de Rafael Coutinho ("Sobre Daisy"), assim como em "Cara de Índio", de Shane Amaya e Gabriel Bá, que fala do romance entre um índio e uma branca e da busca que um de seus filhos faz por suas raízes.
A consciência atormentada, mas amoral, dos profissionais da morte está bem retratada em personagens como o médico Doc Holliday (de "Ele Morreu na Cama", escrita e desenhada por Peov) e no tenente Lou de "Rio Abaixo", escrita por Ricardo Giassetti e ilustrada por Fabio Cobiaco, que também mostra os estragos da política de expansão econômica norte-americana.
Há ainda personagens históricos (como o célebre mágico Houdini, que aparece em "Uma Nova Liberdade", de Jeremy Nisen e Jefferson Costa), humor (na breve e divertida "Mercado de Peixe da Família Lao", de Rafael Grampá) e narrativas que se resolvem quase que exclusivamente com a arte, como na cinematográfica (e belíssima) "Ntsayka Ikanum", de Kako, sobre a tribo paiute.
O grupo de autores inclui uma única representante feminina, a americana Pam Noles. Em "Stagecoach Mary", ilustrada por Bruno D'Angelo, ela mostra que as mulheres também tiveram lugar de destaque no Velho Oeste.


Bang Bang
Editora: Devir
Quanto: R$ 27 (184 págs.)


Texto Anterior: Para enterrar um morto-vivo
Próximo Texto: Nelson Ascher: Relativismo cultural e multiculturalismo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.