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QUADRINHOS
Coletânea da Devir com dez histórias reúne nova geração de quadrinistas em torno da temática do faroeste
Brasileiros visitam o oeste em "Bang Bang"
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Índios, pistoleiros, donzelas, desertos, saloons... toda a simbologia típica do Velho Oeste norte-americano está retratada em
"Bang Bang", coletânea com dez
histórias em quadrinhos que a
Devir está lançando no Brasil,
após ter sido lançada nos EUA pela editora Terra Major.
Mas quem está acostumado a
HQs de faroeste como "Tex" e
"Ken Parker" vai se surpreender
com o material de "Bang Bang": a
coletânea reúne vários expoentes
da nova geração de quadrinhos
brasileiros e uma trinca de americanos que levam a mitologia do
Oeste e seus personagens arquetípicos para novos padrões -tanto
nas ilustrações (todas em preto-e-branco) quanto nos roteiros.
Como bem define o especialista
Primaggio Mantovi em sua ótima
introdução, "a grande corrida para o Oeste pode ser considerada o
nascimento da nação americana e
de sua história. Nasceu o culto do
"self-made man", mas também
aquele do fora-da-lei". Mas essa
temática tipicamente norte-americana traz embutida em si uma
série de questões filosóficas -sobre vida e morte, lealdade e justiça, amor e ódio- que dizem respeito à história humana, donde se
entende o interesse e a pertinência
do faroeste além das fronteiras
dos Estados Unidos.
É sobre esses valores universais
que falam as histórias de "Bang
Bang". O amor e sua dimensão
trágica, por exemplo, estão nos
textos de Fábio Moon ("Ninguém
Olhará por Nós") e de Rafael Coutinho ("Sobre Daisy"), assim como em "Cara de Índio", de Shane
Amaya e Gabriel Bá, que fala do
romance entre um índio e uma
branca e da busca que um de seus
filhos faz por suas raízes.
A consciência atormentada,
mas amoral, dos profissionais da
morte está bem retratada em personagens como o médico Doc
Holliday (de "Ele Morreu na Cama", escrita e desenhada por
Peov) e no tenente Lou de "Rio
Abaixo", escrita por Ricardo
Giassetti e ilustrada por Fabio Cobiaco, que também mostra os estragos da política de expansão
econômica norte-americana.
Há ainda personagens históricos (como o célebre mágico Houdini, que aparece em "Uma Nova
Liberdade", de Jeremy Nisen e
Jefferson Costa), humor (na breve
e divertida "Mercado de Peixe da
Família Lao", de Rafael Grampá)
e narrativas que se resolvem quase que exclusivamente com a arte,
como na cinematográfica (e belíssima) "Ntsayka Ikanum", de Kako, sobre a tribo paiute.
O grupo de autores inclui uma
única representante feminina, a
americana Pam Noles. Em "Stagecoach Mary", ilustrada por
Bruno D'Angelo, ela mostra que
as mulheres também tiveram lugar de destaque no Velho Oeste.
Bang Bang
Editora: Devir
Quanto: R$ 27 (184 págs.)
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