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33ª MOSTRA DE SP
Um dia sobre a Terra
Tóquio, Nova York e Alemanha servem de cenário para 3 filmes em episódios que vão da paixão declarada à crítica pesada
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Qualquer filme formado
por vários episódios de
diferentes diretores, seguindo um tema proposto, tem a inevitável cara de
lição de casa. Três filmes na
mostra, porém, deixam claro
como os resultados podem variar, e que nem sempre dever
de casa é uma camisa de força.
O tema da cidade une "Tokyo!", "Nova York, Eu Te Amo" e
"Alemanha 09". São três formas diferentes de estar no
mundo, e são inevitáveis generalizações e estereótipos.
São histórias que só poderiam se passar naquela cidade?
Se lembrarmos que, com globalização, internet etc., as metrópoles ficaram meio parecidas, a
resposta é não. Mas, como são
filmes, e não exames escolares
de fim de ano para serem levados tão a sério, pouco importa.
"Tokyo!" é aberto por Michel
Gondry, com filme baseado em
conto sobre jovem casal em crise que se passa originalmente
em Nova York. Em Tóquio, cidade-fetiche de modernosos,
Gondry encontra o terreno
ideal para levar adiante seus temas lúdicos cheios de referências ao próprio cinema.
Leos Carax faz o episódio
mais fraco, sobre homem de
paletó verde que vive nos esgotos e ataca a população nas
ruas. A associação com o imaginário de monstros japoneses,
como Godzilla, é imediata.
No geral, a ideia é a de que japoneses são pessoas repletas de
idiossincrasias. Um certo olhar
estrangeiro, mas não falso, percorre "Tokyo!". Formado por
três episódios mais longos, é o
mais bem resolvido do pacote.
Já "Alemanha 09" é um soco
no estômago. Por isso mesmo, é
o mais provocador. Poderia se
chamar "Alemanha, Eu Te
Odeio". Seus 13 episódios centram fogo em questões sociopolíticas do país. Estão todas lá:
o peso do passado nazista, a
queda do Muro de Berlin, imigrantes, terrorismo etc.
No curta de Dani Levy, cidadãos xingam o país em programa no estilo "fala, povo". Mais
tarde, veremos uma criança
que será saudada por neonazistas como "o novo führer".
Em seguida, o episódio de
Fatih Akin acompanha um ex-prisioneiro de Guantánamo
que busca cidadania alemã. Seja em tom realista, seja em tom
fantástico, as histórias seguem
um mesmo tom de pesadelo.
Por fim, "Nova York, Eu Te
Amo" tenta deixar a estrutura
menos engessada. Ainda que
seja formado por dez curtas, há,
entre um e outro, personagens
que trafegam pelas histórias,
como a moça que sai filmando
cenas cotidianas pelas ruas.
A
ideia de sugerir que NY é uma
cidade fluida, onde todos acabarão se esbarrando nas ruas,
não deixa de ser atraente
Pois é de sedução que fala o
filme. O personagem de Orlando Bloom no segmento de
Shunji Iwai, por exemplo, é a
perfeita caracterização do estereótipo de artista do Brooklyn
-jovem e descolado.
O longa evoca, mais do que a
realidade de Nova York, um
imaginário fixado por diretores
como Woody Allen e tantas outras comédias românticas (cidade multicultural, democrática, com artistas em cada esquina e belas pessoas dispostas a
sexo casual sem culpa). Aqui,
nunca existiu o 11 de Setembro.
TOKYO!
Quando: hoje, às 18h50, no Espaço Unibanco Pompeia (classificação: 12 anos)
Avaliação: bom
NOVA YORK, EU TE AMO
Quando: amanhã, às 23h40, no Cine
Bombril (classificação: 14 anos)
Avaliação: regular
ALEMANHA 09
Quando: seg., às 14h, no Espaço Unibanco Pompeia, e mais duas exibições
(classificação: 14 anos)
Avaliação: regular
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