São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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33ª MOSTRA DE SP

Um dia sobre a Terra

Tóquio, Nova York e Alemanha servem de cenário para 3 filmes em episódios que vão da paixão declarada à crítica pesada

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Qualquer filme formado por vários episódios de diferentes diretores, seguindo um tema proposto, tem a inevitável cara de lição de casa. Três filmes na mostra, porém, deixam claro como os resultados podem variar, e que nem sempre dever de casa é uma camisa de força.
O tema da cidade une "Tokyo!", "Nova York, Eu Te Amo" e "Alemanha 09". São três formas diferentes de estar no mundo, e são inevitáveis generalizações e estereótipos. São histórias que só poderiam se passar naquela cidade? Se lembrarmos que, com globalização, internet etc., as metrópoles ficaram meio parecidas, a resposta é não. Mas, como são filmes, e não exames escolares de fim de ano para serem levados tão a sério, pouco importa.
"Tokyo!" é aberto por Michel Gondry, com filme baseado em conto sobre jovem casal em crise que se passa originalmente em Nova York. Em Tóquio, cidade-fetiche de modernosos, Gondry encontra o terreno ideal para levar adiante seus temas lúdicos cheios de referências ao próprio cinema.
Leos Carax faz o episódio mais fraco, sobre homem de paletó verde que vive nos esgotos e ataca a população nas ruas. A associação com o imaginário de monstros japoneses, como Godzilla, é imediata.
No geral, a ideia é a de que japoneses são pessoas repletas de idiossincrasias. Um certo olhar estrangeiro, mas não falso, percorre "Tokyo!". Formado por três episódios mais longos, é o mais bem resolvido do pacote.
Já "Alemanha 09" é um soco no estômago. Por isso mesmo, é o mais provocador. Poderia se chamar "Alemanha, Eu Te Odeio". Seus 13 episódios centram fogo em questões sociopolíticas do país. Estão todas lá: o peso do passado nazista, a queda do Muro de Berlin, imigrantes, terrorismo etc. No curta de Dani Levy, cidadãos xingam o país em programa no estilo "fala, povo". Mais tarde, veremos uma criança que será saudada por neonazistas como "o novo führer".
Em seguida, o episódio de Fatih Akin acompanha um ex-prisioneiro de Guantánamo que busca cidadania alemã. Seja em tom realista, seja em tom fantástico, as histórias seguem um mesmo tom de pesadelo.
Por fim, "Nova York, Eu Te Amo" tenta deixar a estrutura menos engessada. Ainda que seja formado por dez curtas, há, entre um e outro, personagens que trafegam pelas histórias, como a moça que sai filmando cenas cotidianas pelas ruas.
A ideia de sugerir que NY é uma cidade fluida, onde todos acabarão se esbarrando nas ruas, não deixa de ser atraente Pois é de sedução que fala o filme. O personagem de Orlando Bloom no segmento de Shunji Iwai, por exemplo, é a perfeita caracterização do estereótipo de artista do Brooklyn -jovem e descolado.
O longa evoca, mais do que a realidade de Nova York, um imaginário fixado por diretores como Woody Allen e tantas outras comédias românticas (cidade multicultural, democrática, com artistas em cada esquina e belas pessoas dispostas a sexo casual sem culpa). Aqui, nunca existiu o 11 de Setembro.


TOKYO!

Quando: hoje, às 18h50, no Espaço Unibanco Pompeia (classificação: 12 anos)
Avaliação: bom

NOVA YORK, EU TE AMO

Quando: amanhã, às 23h40, no Cine Bombril (classificação: 14 anos)
Avaliação: regular

ALEMANHA 09

Quando: seg., às 14h, no Espaço Unibanco Pompeia, e mais duas exibições (classificação: 14 anos)
Avaliação: regular




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