São Paulo, sábado, 31 de outubro de 1998

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MÚSICA
Instrumentista se apresenta hoje no festival "Chorando Alto", que vai até segunda-feira no Sesc Pompéia
Donato volta à infância para lembrar Jacob

da Redação

O instrumentista acreano João Donato correu cinco lojas na capital carioca numa tarde da última semana. Ele buscava um disco de Jacob do Bandolim -atrás de inspiração para a homenagem que fará hoje no "Chorando Alto", evento que celebra a memória e a obra do compositor. Só depois de muito andar, encontrou um.
"Como é que o Brasil pode ser tão distraído?", se pergunta. "Não dá para entender porque coisas tão importantes da música brasileira se perdem."
O pianista, mais conhecido hoje por sua militância na bossa nova (ainda que com desvios muito particulares), tem uma ligação profunda com o choro. Começou a tocar no grupo regional de Altamiro Carrilho. "O regional me deu noções de harmonia e passei a buscar um som mais moderno", diz.
Donato teoriza sobre as relações do estilo que primeiro aprendeu com a bossa nova e vê uma cisão dos dois. "A bossa ficou chique e emigrou, viajou, encontrou o jazz e ficou famosa. O choro ficou no seu formato provinciano, regional, mas a sua origem é a mesma e o legado do choro é mais amplo."
Donato vai tocar com um quinteto de instrumentistas, acompanhado por Arismar do Espírito Santo, que participou também de seu último CD, "Café com Pão". Foi na promoção do mesmo que Donato esteve por uma longa temporada em São Paulo, fazendo shows para um pequeno público no Supremo.
O violonista Hélio Delmiro se apresenta na sequência, e o encontro dos dois no palco é bastante provável. O repertório de Donato para esta noite vai ser composto de memórias recônditas da sua infância e adolescência. "Vou relembrar músicas que ouvia e que lembro de cabeça, da época em que o choro tocava no rádio."
"Assanhado" (Jacob do Bandolim), "1 a 0" (Pixinguinha), "André de Sapato Novo" e "Na Glória" estão entre elas. As músicas fazem parte das suas recordações e reforçam um princípio do compositor, o de preferir imensamente a música instrumental à "popular" -aqui ele lê, talvez com algum desprezo, as músicas que têm letra. ˛
Domingo
Amanhã, o palco do Sesc Pompéia vai presenciar dois encontros de estilos. Joyce, Gilson Peranzetta e Herbie Man são a grande atração da noite, promovendo uma "fusion" do choro com o jazz.
O bandolinista Déo Rian, considerado, ao lado de Joel Nascimento, um dos herdeiros de Jacob do Bandolim, vai homenagear o músico tocando junto com o Zimbo Trio e com o Época de Ouro. "Acho que a idéia dos organizadores é mostrar os contrastes", disse o músico.
O repertório com o Zimbo Trio terá "Carolina" (Chico Buarque); com o Época vai lembrar a valsa de Dino Sete Cordas "Manhã de Luz". "Jacob sempre achou que o choro ia morrer. Se visse hoje a modernização do estilo que os novos grupos estão fazendo, ficaria muito surpreso", conclui.
(SYLVIA COLOMBO)



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