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MÚSICA
Instrumentista se apresenta hoje no festival "Chorando Alto", que vai até segunda-feira no Sesc Pompéia
Donato volta à infância para lembrar Jacob
da Redação
O instrumentista acreano João
Donato correu cinco lojas na capital carioca numa tarde da última
semana. Ele buscava um disco de
Jacob do Bandolim -atrás de inspiração para a homenagem que fará hoje no "Chorando Alto", evento que celebra a memória e a obra
do compositor. Só depois de muito
andar, encontrou um.
"Como é que o Brasil pode ser
tão distraído?", se pergunta. "Não
dá para entender porque coisas tão
importantes da música brasileira
se perdem."
O pianista, mais conhecido hoje
por sua militância na bossa nova
(ainda que com desvios muito particulares), tem uma ligação profunda com o choro. Começou a tocar no grupo regional de Altamiro
Carrilho. "O regional me deu noções de harmonia e passei a buscar
um som mais moderno", diz.
Donato teoriza sobre as relações
do estilo que primeiro aprendeu
com a bossa nova e vê uma cisão
dos dois. "A bossa ficou chique e
emigrou, viajou, encontrou o jazz
e ficou famosa. O choro ficou no
seu formato provinciano, regional,
mas a sua origem é a mesma e o legado do choro é mais amplo."
Donato vai tocar com um quinteto de instrumentistas, acompanhado por Arismar do Espírito
Santo, que participou também de
seu último CD, "Café com Pão".
Foi na promoção do mesmo que
Donato esteve por uma longa temporada em São Paulo, fazendo
shows para um pequeno público
no Supremo.
O violonista Hélio Delmiro se
apresenta na sequência, e o encontro dos dois no palco é bastante
provável. O repertório de Donato
para esta noite vai ser composto de
memórias recônditas da sua infância e adolescência. "Vou relembrar
músicas que ouvia e que lembro de
cabeça, da época em que o choro
tocava no rádio."
"Assanhado" (Jacob do Bandolim), "1 a 0" (Pixinguinha), "André
de Sapato Novo" e "Na Glória" estão entre elas. As músicas fazem
parte das suas recordações e reforçam um princípio do compositor,
o de preferir imensamente a música instrumental à "popular"
-aqui ele lê, talvez com algum
desprezo, as músicas que têm letra.
˛
Domingo
Amanhã, o palco do Sesc Pompéia vai presenciar dois encontros
de estilos. Joyce, Gilson Peranzetta
e Herbie Man são a grande atração
da noite, promovendo uma "fusion" do choro com o jazz.
O bandolinista Déo Rian, considerado, ao lado de Joel Nascimento, um dos herdeiros de Jacob do
Bandolim, vai homenagear o músico tocando junto com o Zimbo
Trio e com o Época de Ouro.
"Acho que a idéia dos organizadores é mostrar os contrastes",
disse o músico.
O repertório com o Zimbo Trio
terá "Carolina" (Chico Buarque);
com o Época vai lembrar a valsa
de Dino Sete Cordas "Manhã de
Luz". "Jacob sempre achou que o
choro ia morrer. Se visse hoje a
modernização do estilo que os novos grupos estão fazendo, ficaria
muito surpreso", conclui.
(SYLVIA COLOMBO)
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