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TELEVISÃO
Para cientista social, em 2001 imagem de Silvio Santos mudou entre integrantes das classes média e alta do país
"Ano deve aproximar apresentador da elite cultural"
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
Uma das principais consequências do tumultuado ano de Silvio
Santos foi uma maior aproximação entre o apresentador e a elite
cultural, na opinião da cientista
social Maria Celeste Mira, professora da PUC de São Paulo.
Autora de "Circo Eletrônico", livro em que analisa a trajetória do
dono do SBT e dos programas de
auditório, Mira acredita que em
2001 tenha "diminuído o índice
de rejeição que Silvio Santos costuma ter nas classes média e alta
do país, principalmente com as
pessoas mais cultas".
"A própria imprensa já foi mais
hostil em relação a ele. Agora parece que o tratamento mudou, e
muito disso se deve ao fato de ele
ter se tornado notícia obrigatória,
de até a Globo ter sido obrigada a
falar nele em dois momentos, no
Carnaval e no sequestro", afirma.
Para ela, Silvio Santos ganha
simpatia da elite cultural quando
consegue atrapalhar planos da
Globo. "Sempre há um gostinho
em ver a líder perdendo", diz.
E o que cativaria a elite seria,
principalmente, o fato de ele "jogar" sempre de forma inusitada.
"Ele sabe muito bem como criar
notícia. É fácil perceber que no
SBT a programação é administrada por ele e tudo o que tem repercussão costuma ser decisão dele",
disse Mira. "Neste ano isso aconteceu com "Casa dos Artistas"."
Mira afirma que quando fez
pesquisa para escrever "Circo Eletrônico", sua tese de mestrado,
encontrou vários exemplos dessa
habilidade. "Lembro que houve
uma época em que a Globo sempre comprava os grandes filmes
de Hollywood antes de todas as
emissoras. Uma vez, não sei por
que, Silvio Santos conseguiu comprar "Rambo" antes. A Globo, para
tentar prejudicar a audiência do
filme no SBT, começou a esticar a
novela das oito. Ele (Silvio Santos)
não teve dúvida. Colocou um comunicado no ar que dizia: "Não se
preocupe. Assim que acabar a novela da Globo você assistirá a
"Rambo" aqui no SBT". Isso é que
sempre foi admirável."
Crescimento no Ibope
O fenômeno "Casa dos Artistas"
certamente foi um reforço na
aproximação de Silvio Santos e
das classes A e B. Uma das razões
que podem ter levado esse público a migrar para o SBT foi o fato
de o programa trazer à emissora
um estética mais moderna, que
veio com o diretor, Rodrigo Carelli, e sua equipe, todos vindos da
MTV.
Segundo o Ibope, 26% dos telespectadores de "Casa dos Artistas"
eram das classes AB, 38% da C e
36% da DE. Com o sucesso do
programa e das novelas, o SBT registrou um crescimento de 42%
em sua média de audiência no horário nobre (das 18h às 24h), de janeiro à primeira quinzena de dezembro de 2001. No mesmo período, a audiência média da Globo caiu 12% no Ibope da Grande
São Paulo.
A maneira como o programa foi
concebido reforça a marca "inusitada" de Silvio Santos. A equipe
de criação ficou quase dois meses
trabalhando no programa em
completo sigilo. A atração foi
anunciada no dia da estréia e pegou a Globo de surpresa.
Aos domingos, enquanto comandava a edição especial do
"reality show", ele fazia piadas
com a disputa pela audiência e só
colocava o intervalo comercial no
ar quando a Globo entrava com o
do "Fantástico". "Nosso comercial é estratégico", dizia. Assim
que terminou de apresentar a última edição de "Casa", disse nos
bastidores que se sentia triste com
o fim do programa. "O segundo
nunca será tão bom quando o primeiro", teria dito. E dificilmente
2002 será "tão bom" quanto 2001.
(LAURA MATTOS E DANIEL CASTRO)
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