São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2001

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TELEVISÃO

Para cientista social, em 2001 imagem de Silvio Santos mudou entre integrantes das classes média e alta do país

"Ano deve aproximar apresentador da elite cultural"

DA REPORTAGEM LOCAL

DA REDAÇÃO

Uma das principais consequências do tumultuado ano de Silvio Santos foi uma maior aproximação entre o apresentador e a elite cultural, na opinião da cientista social Maria Celeste Mira, professora da PUC de São Paulo.
Autora de "Circo Eletrônico", livro em que analisa a trajetória do dono do SBT e dos programas de auditório, Mira acredita que em 2001 tenha "diminuído o índice de rejeição que Silvio Santos costuma ter nas classes média e alta do país, principalmente com as pessoas mais cultas".
"A própria imprensa já foi mais hostil em relação a ele. Agora parece que o tratamento mudou, e muito disso se deve ao fato de ele ter se tornado notícia obrigatória, de até a Globo ter sido obrigada a falar nele em dois momentos, no Carnaval e no sequestro", afirma.
Para ela, Silvio Santos ganha simpatia da elite cultural quando consegue atrapalhar planos da Globo. "Sempre há um gostinho em ver a líder perdendo", diz.
E o que cativaria a elite seria, principalmente, o fato de ele "jogar" sempre de forma inusitada. "Ele sabe muito bem como criar notícia. É fácil perceber que no SBT a programação é administrada por ele e tudo o que tem repercussão costuma ser decisão dele", disse Mira. "Neste ano isso aconteceu com "Casa dos Artistas"."
Mira afirma que quando fez pesquisa para escrever "Circo Eletrônico", sua tese de mestrado, encontrou vários exemplos dessa habilidade. "Lembro que houve uma época em que a Globo sempre comprava os grandes filmes de Hollywood antes de todas as emissoras. Uma vez, não sei por que, Silvio Santos conseguiu comprar "Rambo" antes. A Globo, para tentar prejudicar a audiência do filme no SBT, começou a esticar a novela das oito. Ele (Silvio Santos) não teve dúvida. Colocou um comunicado no ar que dizia: "Não se preocupe. Assim que acabar a novela da Globo você assistirá a "Rambo" aqui no SBT". Isso é que sempre foi admirável."

Crescimento no Ibope
O fenômeno "Casa dos Artistas" certamente foi um reforço na aproximação de Silvio Santos e das classes A e B. Uma das razões que podem ter levado esse público a migrar para o SBT foi o fato de o programa trazer à emissora um estética mais moderna, que veio com o diretor, Rodrigo Carelli, e sua equipe, todos vindos da MTV.
Segundo o Ibope, 26% dos telespectadores de "Casa dos Artistas" eram das classes AB, 38% da C e 36% da DE. Com o sucesso do programa e das novelas, o SBT registrou um crescimento de 42% em sua média de audiência no horário nobre (das 18h às 24h), de janeiro à primeira quinzena de dezembro de 2001. No mesmo período, a audiência média da Globo caiu 12% no Ibope da Grande São Paulo.
A maneira como o programa foi concebido reforça a marca "inusitada" de Silvio Santos. A equipe de criação ficou quase dois meses trabalhando no programa em completo sigilo. A atração foi anunciada no dia da estréia e pegou a Globo de surpresa.
Aos domingos, enquanto comandava a edição especial do "reality show", ele fazia piadas com a disputa pela audiência e só colocava o intervalo comercial no ar quando a Globo entrava com o do "Fantástico". "Nosso comercial é estratégico", dizia. Assim que terminou de apresentar a última edição de "Casa", disse nos bastidores que se sentia triste com o fim do programa. "O segundo nunca será tão bom quando o primeiro", teria dito. E dificilmente 2002 será "tão bom" quanto 2001.
(LAURA MATTOS E DANIEL CASTRO)


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