São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2001

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CASSIA ELLER

Laudo de exames da necropsia deve demorar de 20 a 30 dias; família descarta a hipótese de uso de drogas

Polícia vê morte da cantora como "suspeita"

FERNANDA DA ESCÓSSIA
MÁRIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

A polícia do Rio ainda não sabe o que causou a morte da cantora Cássia Eller -na 10ª Delegacia Policial, em Botafogo (zona sul), o caso foi registrado como "morte suspeita".
Eller morreu às 19h05 de sábado, aos 39 anos, na clínica Santa Maria, em Laranjeiras (zona sul), após sofrer três paradas cardíacas. Por determinação da polícia, o corpo foi submetido à necropsia no IML (Instituto Médico Legal) na madrugada de ontem.
Na declaração de óbito, consta que a definição da causa da morte ainda depende do resultado de exames da necropsia, como o toxicológico. O laudo final sai num prazo de 20 a 30 dias.
O delegado Marcos Reimão, da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil, disse que a polícia está acompanhando o caso porque tomou conhecimento, pela imprensa, da hipótese de morte por intoxicação exógena, o que poderia significar abuso de drogas. "A polícia não descarta nenhuma hipótese, seja acidente, suicídio, intoxicação, homicídio ou erro médico. Não se pode macular a imagem de uma pessoa sem ter certeza. Vamos apurar."
O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) investigará se houve falha no atendimento da clínica. "Estranhei e até lamento que essa moça tenha ido para essa clínica. É de pequeno porte, não é de padrão A", disse o presidente da entidade, Mário Jorge Noronha. A Folha tentou localizar ontem algum responsável pela Santa Maria. Os atendentes diziam que não havia ninguém para falar sobre o caso.

Exame no IML
A família de Cássia Eller não queria permitir o exame no IML. Karla Eller, 38, irmã da cantora, disse que descarta a hipótese de morte por uso de drogas. "A gente achava que não ia ser necessário, mas acabou aceitando para não haver nenhuma dúvida quanto às causas da morte. Não há a menor hipótese de ser por causa de drogas", afirmou Karla.
Em entrevista em abril, a cantora disse que fora dependente de cocaína, mas deixara o vício. "Fiz um tratamento de desintoxicação, que durou de 1998 a 2000. Encontrei Jesus, sigo com ele, limpinha", contou ela.
Eller foi internada na Santa Maria por volta das 13h de sábado. O único boletim médico divulgado diz que ela chegou "com quadro de desorientação e agitação", evoluindo rapidamente para "depressão respiratória e parada cardiorrespiratória".
Karla Eller disse que a cantora começou a passar mal no Natal, com uma crise de asma, fortes dores no peito e dificuldades de respirar. "Ela achava que as dores eram efeito do cigarro e resolveu parar de fumar."
Ela disse que a irmã foi levada à clínica no final da manhã de sábado por duas percussionistas de sua banda, Lanlan e Tamina. "Quando chegamos à clínica, ela não queria ficar lá de jeito nenhum, dizendo que queria ficar com a família, que tinha vindo de Belo Horizonte", afirmou Karla.
O jornaleiro Rogério Guida, 54, dono de uma banca perto da clínica, disse que viu Eller na rua por volta das 12h de sábado. "Ela chorava muito. Aí saiu da clínica um médico, dr. Marcelo [Heringer, irmão do diretor da clínica", dizendo que havia sido chamado."
No posto de gasolina em frente à banca, um morador que pediu para não ser identificado disse que Cássia estava tentando deixar a clínica e que o médico havia saído para buscá-la. Uma funcionária da clínica deu a mesma versão.
No prédio em que a cantora morava, no Cosme Velho (zona sul), o porteiro Ademir Nascimento dos Santos disse que a viu pela última vez no sábado, por volta das 11h, quando Eller saiu de carro com duas amigas. "Ela me deu as chaves do apartamento, porque a mãe ia chegar, e me desejou feliz Ano Novo. Parecia normal. Saiu e não voltou mais."



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