|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Artista lança manifesto do "pós-japonismo"
DE PARIS
Os franceses, que adoram o cinema de Kitano, finalmente puderam estar diante de suas pinturas na exposição "Coloriages",
apresentada recentemente na
Fundação Cartier para a Arte
Contemporânea. Nas telas, parecidas com as que mostrou no filme "Hana-Bi", vive um mundo
em que flores e animais se confundem nas figurações que não
sabemos se são kitschs, ingênuas
ou delicadamente perversas.
A exposição foi também uma
oportunidade de ver programas
de auditório absurdos que Kitano
faz no Japão. Mas não era exclusivamente a exibição de trabalhos
do diretor. Reuniu mais de 50 artistas e designers japoneses, de várias procedências e técnicas, para
oferecer um panorama da nova
arte contemporânea no país.
Panorama polêmico e complexo, pois, além de atrações da TV,
não dispensou como exemplos de
criação artística no país pokémons e digimons, mangá, jogos
da Nintendo, robôs e bichos de
plástico. "A idéia de subcultura é
estranha ao Japão. Os "mangakas"
(desenhadores de mangá) são
considerados por lá artistas completos", declarou ao "Libération"
o artista plástico Takashi Murakami, 40, curador de "Coloriages".
Murakami é uma estrela da cultura japonesa, um artista controverso bastante influenciado por
Andy Warhol. Junto com "Coloriages", ele apresentou na mesma
fundação a exposição "Kaikai Kiki", com seus trabalhos recentes.
Kaikai e Kiki são dois divertidos
personagens por ele criados e que
ilustram as telas da sua exposição
-ora pequenos quadros dispostos em série, ora enormes murais,
pintados em acrílico, e recheados
de flores, olhos e figuras infantilizadas que lembram mangá.
Murakami aproveitou a exposição para lançar uma espécie de
manifesto do "pós-japonismo". O
japonismo foi a onda de interesse
pela arte japonesa que se espalhou
no século 19 pelo Ocidente. A própria arte japonesa deixou-se influenciar pela ocidental a partir
desta época, como demonstra o
termo "coloriage" (colorização).
É a tradução de "nurie", processo
utilizado pelos japoneses de
preenchimento dos contornos de
uma obra copiada do Ocidente.
Para Murakami, esse período
terminou. Leia um trecho de seu
"manifesto": "Após a derrota na
Segunda Guerra, o Japão foi culturalmente bombardeado pelo
vencedor americano. Os traços do
contorno se tornaram mais espessos, a influência americana e européia se acumularam para estruturar, do exterior, a cultura e a arte japonesas. Mas nestes dez últimos anos, o charme do "coloriage"
deixou progressivamente de agir
sobre o mundo da arte. Hoje criamos novos contornos, talvez desordenados, mas que nos são próprios e que não provêm das "belas-artes" ocidentais. Esse novo
movimento encontra sua origem
no que o Ocidente chama de subcultura. "Coloriage" foi criado no
Japão, um país que não faz distinção entre cultura e subcultura".
Texto Anterior: O teatro de marionetes de Takeshi Kitano Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|