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LIVRO
Em obra da série "Perfis do Rio", de Regina Zappa, ator e cineasta critica nova geração de intérpretes e fala sobre sua carreira
Biografia expõe histórias e alfinetadas de Carvana
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Biografado no novo livro da coleção "Perfis do Rio", o ator e cineasta Hugo Carvana, 68, é duro
com a nova geração de artistas de
novela. Para ele, o "jovem não troca um fim de semana em Caras
[ilha no litoral fluminense administrada pela revista "Caras"] por
uma aula de interpretação" e "fica
rico com 20 anos de idade".
Em "Hugo Carvana", da jornalista Regina Zappa, ele só elogia
dois atores da nova geração: Selton Mello e Fábio Assunção, a
quem qualifica como "intuitivo".
As críticas de Carvana também
são dirigidas a quem escreve sobre televisão. "A crítica de TV hoje não é (...) inteligente porque é,
na verdade, uma crítica do sucesso. Sou do tempo em que o crítico
destrinchava o trabalho", diz.
Pode parecer, lendo os parágrafos anteriores, que, no livro, o ator
e cineasta desfia opiniões na tentativa de provar algo do tipo "no
meu tempo é que era bom". Isso
não é verdade. O trabalho agrega
informações relevantes sobre a vida cotidiana e a trajetória profissional de Carvana. Mostra o artista nas chanchadas, no Cinema
Novo, na TV, em família, no exílio
e na política.
Menino de subúrbio, criado pela mãe costureira, Carvana vê exposto pela autora até mesmo seu
envolvimento pesado, nas décadas de 60 e 70, com o álcool e as
drogas disponíveis à época -cocaína, ácido lisérgico e maconha.
Fala também do percurso de dez
anos na psicanálise, que muito o
ajudou a minimizar o problema.
Também é contada a forma
obstinada com que venceu um
câncer pulmonar manifestado na
segunda metade dos anos 90, misturando tratamentos convencionais com cirurgias espirituais.
A obra aborda ainda seu descontentamento com a atuação
política que desenvolveu, inicialmente como simpatizante do Partido Comunista e, mais tarde, no
primeiro governo de Leonel Brizola (1922-2004) no Estado do
Rio, de 1983 a 1986.
Carvana chegou a ter um cargo
gerencial na área de cultura. Ao
deixar o governo, quase acabou o
casamento com a jornalista Martha Alencar, assessora de Brizola.
A união resistiu. Estão casados há
quase 40 anos. Têm quatro filhos.
"Não omiti nada. Até porque
não tenho sentimento de culpa na
minha vida. Às vezes, a realidade
pode ter sido um pouco atenuada.
Às vezes, escondi determinados
ódios momentâneos", admitiu o
biografado à Folha.
"Hugo Carvana" (R$ 26; 190 páginas) surgiu a partir do convívio
dele com Zappa, iniciado há cinco
anos. "Ao entrevistá-lo sobre seu
filme "Apolônio Brasil, o Campeão da Alegria", percebi a riqueza
de sua história. Ele atravessou
uma fase da cultura brasileira em
que participou de quase tudo",
disse Zappa, que já tinha escrito
"Chico Buarque" para a coleção.
O livro conta como, aos 17 anos,
o adolescente que não sabia o que
fazer na vida se encantou com a
profissão de ator. Foi em 1955, no
estúdio da pioneira TV Tupi. Levado pelo amigo Joel Barcellos,
ator que, como ele, mais tarde se
consagraria no Cinema Novo,
Carvana adorou o ambiente. Foi
reprovado no teste, mas sua vida
mudou a partir dali.
Começou em pontas nas chanchadas, guinou para um cinema
mais engajado em 1962, trabalhou
com os principais diretores do Cinema Novo e ingressou na TV em
1966. Como cineasta, ofício a que
se dedicou após a volta do exílio,
no início dos anos 70, Carvana desenvolveu uma espécie de estilo
carioca de fazer cinema. Agora,
Carvana se dedica a finalizar o roteiro e a captação de recursos de
"A Casa da Mãe Joana", que planeja dirigir em 2006.
Perfis do Rio - Hugo Carvana
Autora: Regina Zappa
Editora: Relume Dumará
Quanto: R$ 26 (190 págs.)
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