JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL

Que seja um tempo melhor. Que saibamos melhor o que fazer com o tempo. Que, inspirados no tempo, sejamos também pessoas melhores, e que o tempo nos ensine a agir melhor diante das adversidades que nos apresenta... De promessas vagas e boas intenções, se não está cheio o inferno, a virada do ano sim o está.
Todas elas, nos explica o professor de filosofia Renato Janine Ribeiro, estão de algum modo relacionadas a uma palavra de significado usualmente um tanto indefinido: ética. É ela que intitula o especial que Janine Ribeiro apresenta neste último dia do ano, no Futura, e que terá continuidade em mais oito programas em 2006.
Com simpatia, o filósofo percorre as ruas do Rio de Janeiro e conversa com seus habitantes -taxistas, feirantes, crianças, um travesti, um padre. São eles, afinal, a matéria bruta da qual emana essa parte da filosofia: segundo Janine Ribeiro, a ética nada mais é do que o escrutínio, pessoal e coletivo, das ações humanas.
O didatismo dita as normas desde o primeiro momento: de partida, o caso a ser discutido é aquele narrado na novela da Globo "Pecado Capital" (1975/76), em que o personagem Carlão tem de decidir entre apropriar-se de dinheiro alheio para salvar o pai e devolver o dinheiro a seu proprietário original. A partir do caso, surge a definição de "dilema ético", aquele que dispensa qualquer regra e em que nenhuma solução se pode estabelecer como "a certa".
Dele saltamos para a necessidade de uma "reciprocidade de valores e direitos" -"a grande novidade do nosso tempo", no dizer do filósofo-, para enfim culminarmos no conceito de "crise": uma palavra derivada do grego "krisis", cujo significado não vai além de "criar", "escolher".
Enfim, uma sucinta e necessária revisão de conceitos para fazer de 2006 um ano que povoe um pouco mais de profundidade o inferno inane das palavras vãs.