|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BIA ABRAMO
Alguns votos para 2007
Um pouco de ousadia para começar a balançar algumas convenções seria muito bem-vinda
E SE... Ano que vem, o Congresso tomar coragem e aprovar a
lei que proíbe propaganda dirigida a crianças? Em 2007, as emissoras se lembrarem de que são concessões públicas e começarem a pelo
menos tentar eliminar de sua programação o lixo absoluto? Nos próximos 12 meses, produtores de ficção, de jornalismo, de entretenimento deixarem de apostar no pior?
No último dia do ano, a gente pode
se permitir um tantinho de "wishful
thinking" -pensamento desejante,
numa tradução bem livre-, e nomear em voz alta aquelas vontades
tolas, que sabemos ser de realização
quase impossível. Ainda mais em se
tratando de televisão, máquina operada por doidos para fazer perfeitos
idiotas (ou vice-versa, tanto faz), a
probabilidade de que um Ano Novo
traga novidades é quase nula. Quem
ainda está com a TV ligada nestes
dias já está acabrunhado com a perspectiva de iniciar o ano com mais um
"Big Brother" e uma minissérie de
autoria de Glória Perez... Portanto, à
formulação de alguns poucos -mas
substantivos- desejos.
Os programas para crianças poderiam ser mais divertidos. Educativos
ou não, tanto faz: educação é um estado quase que natural de uma relação saudável de adultos com crianças, portanto, qualquer coisa que seja honesta com as crianças será educativa em alguma medida.
Mas é preciso, antes de tudo, ter
imaginação, humor e uma pitada de
subversão. Isso mesmo, alguma subversão é essencial para fazer algo
realmente divertido para crianças
-todos os grandes autores infantis
de ficção, de Monteiro Lobato a Dr.
Seuss, de Lewis Carroll a Roald Dahl,
sabiam disso.
A ficção para adultos -em forma
de novelas, minisséries, sitcoms
etc.- poderia ficar mais atenta aos
ensinamentos das séries americanas. Não se trata de emular as histórias, mas de entender os procedimentos.
Mais agilidade, mais verossimilhança, mais imaginação e mais, de
novo, subversão -um pouco de ousadia para pelo menos começar a balançar algumas convenções seria
muito bem-vindo. Um bom começo
talvez fosse botar para trabalhar
uma turma de diretores e roteiristas
que gostasse (de verdade) de ver
aquilo que produz -em vez de pensar num espectador sempre mais
precário, de gosto "inferior", que
aparentemente se contenta com o
mínimo. E, de resto, um pouquinho
de sobriedade e contenção no jornalismo esportivo -senão, a exibição
dos Jogos Panamericanos com sede
no Rio vai virar um circo de palhaçadas ufanistas para feitos atléticos
que podem revelar-se mais magros
do que a encomenda.
biabramo.tvuol.com.br
Texto Anterior: Criadora já fez roteiro para Britney Spears Próximo Texto: Crítica: Filmes refletem sobre uma nova vida Índice
|