São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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BIA ABRAMO

Alguns votos para 2007

Um pouco de ousadia para começar a balançar algumas convenções seria muito bem-vinda

E SE... Ano que vem, o Congresso tomar coragem e aprovar a lei que proíbe propaganda dirigida a crianças? Em 2007, as emissoras se lembrarem de que são concessões públicas e começarem a pelo menos tentar eliminar de sua programação o lixo absoluto? Nos próximos 12 meses, produtores de ficção, de jornalismo, de entretenimento deixarem de apostar no pior?
No último dia do ano, a gente pode se permitir um tantinho de "wishful thinking" -pensamento desejante, numa tradução bem livre-, e nomear em voz alta aquelas vontades tolas, que sabemos ser de realização quase impossível. Ainda mais em se tratando de televisão, máquina operada por doidos para fazer perfeitos idiotas (ou vice-versa, tanto faz), a probabilidade de que um Ano Novo traga novidades é quase nula. Quem ainda está com a TV ligada nestes dias já está acabrunhado com a perspectiva de iniciar o ano com mais um "Big Brother" e uma minissérie de autoria de Glória Perez... Portanto, à formulação de alguns poucos -mas substantivos- desejos.
Os programas para crianças poderiam ser mais divertidos. Educativos ou não, tanto faz: educação é um estado quase que natural de uma relação saudável de adultos com crianças, portanto, qualquer coisa que seja honesta com as crianças será educativa em alguma medida.
Mas é preciso, antes de tudo, ter imaginação, humor e uma pitada de subversão. Isso mesmo, alguma subversão é essencial para fazer algo realmente divertido para crianças -todos os grandes autores infantis de ficção, de Monteiro Lobato a Dr. Seuss, de Lewis Carroll a Roald Dahl, sabiam disso.
A ficção para adultos -em forma de novelas, minisséries, sitcoms etc.- poderia ficar mais atenta aos ensinamentos das séries americanas. Não se trata de emular as histórias, mas de entender os procedimentos.
Mais agilidade, mais verossimilhança, mais imaginação e mais, de novo, subversão -um pouco de ousadia para pelo menos começar a balançar algumas convenções seria muito bem-vindo. Um bom começo talvez fosse botar para trabalhar uma turma de diretores e roteiristas que gostasse (de verdade) de ver aquilo que produz -em vez de pensar num espectador sempre mais precário, de gosto "inferior", que aparentemente se contenta com o mínimo. E, de resto, um pouquinho de sobriedade e contenção no jornalismo esportivo -senão, a exibição dos Jogos Panamericanos com sede no Rio vai virar um circo de palhaçadas ufanistas para feitos atléticos que podem revelar-se mais magros do que a encomenda.


biabramo.tvuol.com.br

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