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DVD - Crítica/"Fome de Viver"
Drama usa vampiros para abordar solidão
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O tempo salvou "Fome de Viver" (1983). Mal
recebido pelo público
na época, o longa, que marcou a
estréia de Tony Scott no cinema, é um filme com vampiros
que não é necessariamente sobre vampiros. Não é nem terror
nem sátira; clichês típicos, com
criaturas sanguinárias de capas
esvoaçantes, também passaram longe. Fica fácil entender a
razão do fracasso.
Hoje, mais de 20 anos após
sua estréia, o filme, que sai agora em DVD no Brasil -apenas
com trailer e comentários em
áudio de Scott e Susan Sarandon como extra-, é ele próprio
objeto de culto. Envelheceu em
um outro ritmo, como os vampiros. Seus maiores defeitos
-como a busca por um cinema
de estética próxima à da publicidade, no que então se entendia como modernidade- deixaram de ser mera afetação para se tornar um ícone, retrato
de época, como os videoclipes
da fase inicial da MTV.
O grande achado de "Fome" é
usar os vampiros como metáfora para o mal-estar e a solidão
contemporânea. Catherine Deneuve é a vampira que atravessa os séculos com um(a) parceira que, em determinado momento, começa a envelhecer
anos em questão de horas. David Bowie é o "sorteado" da vez,
e logo será mais um item no armário repleto de antigos amantes de Deneuve. Susan Sarandon é a próxima da fila.
O personagem de Bowie, já
decrépito, cobra da ainda bela
Deneuve: "Para sempre, você
prometeu". Ele é apenas mais
um parceiro descartado, jogado
no lixo quando não é mais desejado pela amante. Eram os anos
80, e a folia sexual dos anos 70
começava a cobrar sua dívida
na forma da Aids. O amor não é
eterno, lembra o filme. Ele envelhece e se transforma. Ocasionalmente vira uma coisa frágil e morre bruscamente.
FOME DE VIVER
Direção: Tony Scott
Distribuidora: Warner (R$ 30, em média)
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