São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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DVD - Crítica/"Fome de Viver"

Drama usa vampiros para abordar solidão

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O tempo salvou "Fome de Viver" (1983). Mal recebido pelo público na época, o longa, que marcou a estréia de Tony Scott no cinema, é um filme com vampiros que não é necessariamente sobre vampiros. Não é nem terror nem sátira; clichês típicos, com criaturas sanguinárias de capas esvoaçantes, também passaram longe. Fica fácil entender a razão do fracasso.
Hoje, mais de 20 anos após sua estréia, o filme, que sai agora em DVD no Brasil -apenas com trailer e comentários em áudio de Scott e Susan Sarandon como extra-, é ele próprio objeto de culto. Envelheceu em um outro ritmo, como os vampiros. Seus maiores defeitos -como a busca por um cinema de estética próxima à da publicidade, no que então se entendia como modernidade- deixaram de ser mera afetação para se tornar um ícone, retrato de época, como os videoclipes da fase inicial da MTV.
O grande achado de "Fome" é usar os vampiros como metáfora para o mal-estar e a solidão contemporânea. Catherine Deneuve é a vampira que atravessa os séculos com um(a) parceira que, em determinado momento, começa a envelhecer anos em questão de horas. David Bowie é o "sorteado" da vez, e logo será mais um item no armário repleto de antigos amantes de Deneuve. Susan Sarandon é a próxima da fila.
O personagem de Bowie, já decrépito, cobra da ainda bela Deneuve: "Para sempre, você prometeu". Ele é apenas mais um parceiro descartado, jogado no lixo quando não é mais desejado pela amante. Eram os anos 80, e a folia sexual dos anos 70 começava a cobrar sua dívida na forma da Aids. O amor não é eterno, lembra o filme. Ele envelhece e se transforma. Ocasionalmente vira uma coisa frágil e morre bruscamente.


FOME DE VIVER    
Direção: Tony Scott
Distribuidora: Warner (R$ 30, em média)


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