|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Central da Periferia"
Casé desbrava a cultura da periferia
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
A periferia é o novo
"hype" da televisão. A
moda pegou com a
"Turma do Gueto", na Record,
e chegou à maior rede de TV do
país, a Globo, em produções
impecáveis, como "Palace 2",
"Cidade dos Homens", "Central da Periferia" e, mais recentemente, na série "Antônia".
Mas, apesar de serem inspiradas nos subúrbios -algumas
com personagens protagonizados por atores que vivem ou viviam em regiões periféricas-,
todas são ficcionais. A exceção
é o "Central da Periferia", cujos
primeiros quatro "capítulos"
acabam de ser reunidos em um
DVD.
Parceria entre a atriz-apresentadora Regina Casé, o diretor Guel Arraes e o antropólogo
Hermano Vianna, "Central da
Periferia" estreou em abril deste ano, com um show no Morro
da Conceição, em Recife, e seguiu para outras três capitais:
São Paulo, Salvador e Belém.
Todos com o mesmo formato, o
de um programa de auditório,
ao vivo, com performances de
estrelas das periferias locais,
entremeado por cenas e histórias de bastidores.
São exatamente essas as imagens que fazem de "Central da
Periferia" um dos melhores investimentos da TV neste ano, e,
talvez, um dos mais belos trabalhos sobre a cultura suburbana na televisão. Com um conhecimento profundo sobre os
temas que aborda, Casé realiza
ótimas entrevistas apresentando os protagonistas das periferias locais e traça um paralelo
entre as modas atuais e as antigas tradições da região e também de outros Estados.
Parte disso certamente se deve ao trabalho de pesquisa de
Hermano Vianna, conhecido
entusiasta de culturas como a
das aparelhagens, de Belém. O
episódio que ocorre na capital
paraense é um dos melhores.
Começando pelo brega da
banda Calypso, Regina Casé reconstrói o rico cenário musical
do Pará, recordando ritmos como o carimbó e a guitarrada, e
introduzindo as modernas aparelhagens, equipes de som que
realizam gigantescos bailes,
com equipamentos de som e
luz moderníssimos.
Assim como nos bailes de
funk carioca, no Rio de Janeiro,
e as radiolas, em São Luís, no
Maranhão, as aparelhagens
reúnem milhares de pessoas
das periferias de Belém para
curtir o tecnobrega e o ciber-tecnobrega, invenções locais.
Os subúrbios de Recife rendem o segundo melhor episódio. Mais conhecida no Sudeste
do que em Belém, graças, principalmente, às bandas do movimento mangue beat, a capital
pernambucana mostra que sua
cultura musical é muito mais
fértil do que se imagina. Destacam-se as participações de astros do brega, como o grupo Vício Louco, autor da canção "Pica-Pau", hit no último verão de
Pernambuco, o rap do Faces do
Subúrbio e a moderna eletrônica do DJ Dolores.
Os programas dedicados a
São Paulo e Salvador também
têm lá sua graça, mas ficam
meio apagados frente à concorrência. Vale fazer torcida para
que "Central" desbrave ainda
muitas periferias -a temporada do ano que vem ainda não
está confirmada.
CENTRAL DA PERIFERIA
Lançamento: Som Livre
Quanto: R$ 39, em média
Texto Anterior: Crítica: Filmes refletem sobre uma nova vida Próximo Texto: DVD - Crítica/"Fome de Viver": Drama usa vampiros para abordar solidão Índice
|