São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2006

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Crítica/"Central da Periferia"

Casé desbrava a cultura da periferia

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

A periferia é o novo "hype" da televisão. A moda pegou com a "Turma do Gueto", na Record, e chegou à maior rede de TV do país, a Globo, em produções impecáveis, como "Palace 2", "Cidade dos Homens", "Central da Periferia" e, mais recentemente, na série "Antônia".
Mas, apesar de serem inspiradas nos subúrbios -algumas com personagens protagonizados por atores que vivem ou viviam em regiões periféricas-, todas são ficcionais. A exceção é o "Central da Periferia", cujos primeiros quatro "capítulos" acabam de ser reunidos em um DVD.
Parceria entre a atriz-apresentadora Regina Casé, o diretor Guel Arraes e o antropólogo Hermano Vianna, "Central da Periferia" estreou em abril deste ano, com um show no Morro da Conceição, em Recife, e seguiu para outras três capitais: São Paulo, Salvador e Belém.
Todos com o mesmo formato, o de um programa de auditório, ao vivo, com performances de estrelas das periferias locais, entremeado por cenas e histórias de bastidores.
São exatamente essas as imagens que fazem de "Central da Periferia" um dos melhores investimentos da TV neste ano, e, talvez, um dos mais belos trabalhos sobre a cultura suburbana na televisão. Com um conhecimento profundo sobre os temas que aborda, Casé realiza ótimas entrevistas apresentando os protagonistas das periferias locais e traça um paralelo entre as modas atuais e as antigas tradições da região e também de outros Estados.
Parte disso certamente se deve ao trabalho de pesquisa de Hermano Vianna, conhecido entusiasta de culturas como a das aparelhagens, de Belém. O episódio que ocorre na capital paraense é um dos melhores.
Começando pelo brega da banda Calypso, Regina Casé reconstrói o rico cenário musical do Pará, recordando ritmos como o carimbó e a guitarrada, e introduzindo as modernas aparelhagens, equipes de som que realizam gigantescos bailes, com equipamentos de som e luz moderníssimos.
Assim como nos bailes de funk carioca, no Rio de Janeiro, e as radiolas, em São Luís, no Maranhão, as aparelhagens reúnem milhares de pessoas das periferias de Belém para curtir o tecnobrega e o ciber-tecnobrega, invenções locais.
Os subúrbios de Recife rendem o segundo melhor episódio. Mais conhecida no Sudeste do que em Belém, graças, principalmente, às bandas do movimento mangue beat, a capital pernambucana mostra que sua cultura musical é muito mais fértil do que se imagina. Destacam-se as participações de astros do brega, como o grupo Vício Louco, autor da canção "Pica-Pau", hit no último verão de Pernambuco, o rap do Faces do Subúrbio e a moderna eletrônica do DJ Dolores.
Os programas dedicados a São Paulo e Salvador também têm lá sua graça, mas ficam meio apagados frente à concorrência. Vale fazer torcida para que "Central" desbrave ainda muitas periferias -a temporada do ano que vem ainda não está confirmada.


CENTRAL DA PERIFERIA     
Lançamento: Som Livre
Quanto: R$ 39, em média


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