São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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Feras no frevo

Time eclético, de Siba a João Donato, faz releituras do ritmo em "Frevo do Mundo'; livro reúne depoimentos sobre o o gênero

Leo Caldas/Titular
Isaar, Caca (Flor de Cactus), Araújo, Siba e Trummer (Eddie)


FÁBIO VICTOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O selo recifense Candeeiro Records nasceu em 1999, com o álbum "Baião de Viramundo", tributo a Luiz Gonzaga que reuniu bandas de Pernambuco e São Paulo em arranjos que desconstruíam a obra do rei do baião. Embora original e vigoroso, escolhido como disco da semana do "New York Times" em 2000, teve pouca projeção nacional e está fora de catálogo.
Agora, após lançar DJ Dolores, Erasto Vasconcelos (irmão de Naná) e China, o Candeeiro repete a fórmula em que um time eclético e na maioria jovem relê clássicos da MPB. Só que a reverência desta vez não é a um autor, e sim a um ritmo, o que torna a empreitada tão abrangente quanto arriscada. O centenário do frevo, celebrado em fevereiro último, é o mote para "Frevo do Mundo", à venda a partir do fim de janeiro. Além do álbum, está sendo lançado um livro, em edição de luxo, "Frevo - 100 anos de Folia".
No disco, uma vez mais predominam pernambucanos (Mundo Livre S/A, Cordel do Fogo Encantado, Siba, Eddie, Ortinho, Erasto, China, Isaar de França, Flor de Cactus e Orquestra Popular da Bomba do Hemetério), aos quais se somaram a paulista Céu, os cariocas da Orquestra Imperial e os veteranos do mundo Edu Lobo e João Donato. Mas o diferencial do trabalho, selecionado no Petrobras Cultural, é a tabelinha de famosos com nomes cruciais na preservação do frevo, como Duda, Clóvis Pereira, Ademir Araújo e Spok, que se revezam nos arranjos de metais.

Frescor
"A idéia é partir da essência e inserir elementos, dando frescor ao ritmo", diz Marcelo Soares, dono do selo e idealizador do projeto junto com Pupillo, da Nação Zumbi. Ou, como define no encarte o jornalista e produtor musical Alessandro Soares, é uma tentativa de contribuir "para a evolução do frevo em busca do seu grau zero estético", algo que "talvez o samba seja o único gênero brasileiro" que atingiu.
Uma investida nesta direção é dada por João Donato, que, ao piano, fez da agitada "Fogão" uma espécie de chachachá. Os produtores enviaram 25 canções a Donato, que escolheu este clássico. "Foi o que mais pareceu que poderia ter sido feito por mim", explica. Quase um neófito no frevo ("Na adolescência, Sivuca tocou "Vassourinhas" para mim, depois não tive mais contato"), ele diz ter gostado do resultado. "[O maestro] Duda fez algo para não massacrar meu piano. Ele foi no sapatinho, mas ao mesmo tempo você sente a pulsação do frevo."
Outros decidiram antes o que gravariam, como Edu Lobo. A idéia dos produtores era que ele interpretasse algo do pai, o pernambucano Fernando Lobo, mas Edu elegeu "Frevo Número 1 do Recife", de Antônio Maria.
Se Capiba, regravado por Siba e China, é o mais conhecido compositor de frevo, o painel esboçado no CD faz justiça a outro monstro do ritmo pernambucano, Nelson Ferreira, presente com três músicas, entre elas "O Dia Vem Raiando", executada com rara beleza pela Orquestra Imperial.


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