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Edição de luxo revê Carnavais
Imagens, documentos e depoimentos resgatam história do gênero em "Frevo -100 Anos de Folia'
Livro reproduz opiniões de autores brasileiros e descreve disputa judicial que garantiu aos irmãos Valença crédito por "O Teu Cabelo Não Nega"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Assim como o disco "Frevo
do Mundo", o livro "Frevo - 100
Anos de Folia" vem a público
no apagar das luzes do centenário do ritmo, festejado em 9 de
fevereiro de 2007, tomando como marco a primeira menção à
palavra na imprensa. Foi lançado dia 20 de dezembro, em São
Paulo, e o será no Recife em 9/1.
Trata-se de uma edição de luxo, com capa dura e papel couchê, que compila imagens e textos produzidos ao longo de vários Carnavais. É ancorada em
ensaios dos fotógrafos Pierre
Verger (em 1947) e Marcel
Gautherot (1957), somados a
imagens de arquivos públicos e
acervos particulares, além de
reproduções de obras inspiradas no frevo, de artistas como
Portinari, Lula Cardoso Ayres e
Vicente do Rego Monteiro.
Embora seja o típico livro de
mesinha de centro, mais para
ver do que para ler, há depoimentos de estudiosos e de autores influenciados pelo frevo e
pelo Carnaval pernambucanos
(Clarice Lispector, Mário de
Andrade, Caetano Veloso etc;
leia alguns ao lado), e, mais importante, a pesquisa de Camilo
Cassoli, Luiz Augusto Falcão e
Rodrigo Aguiar revolve documentos significativos.
É o caso da autoria de "O Teu
Cabelo Não Nega". Composta
como frevo pelos irmãos pernambucanos Raul e João Valença e modificada em parte
por Lamartine Babo, foi lançada pela RCA Victor em 1932 só
com o crédito genérico "Motivos do Norte, adaptação de Lamartine Babo". Após disputa
judicial, os irmãos foram reconhecidos como co-autores. O livro traz os dois selos da gravadora, incluindo o "Adaptação
de Lamartine Babo da marcha
"Mulata", dos irmãos Valença".
Bê-á-bá
Há, claro, o bê-á-bá, remontando à fusão que bandas militares do início do século 20 fizeram de marchas, maxixes, dobrados e polcas, criando uma
nova música, que ainda não está claro se veio a reboque da
dança ou o contrário.
Bem depois viria o reconhecimento para além de Pernambuco, como relata Antonio Maria sobre a noite em que levou Orson Welles a um cabaré no
Recife, onde o diretor escutou
um frevo. "Welles ouviu com os
olhos abertíssimos (sempre fez
muito olho, o nosso Welles) e
disse que era espantoso. Mas
achou que o frevo jamais sairia
do Recife. Discordei. O frevo,
um dia, sairá pelo mundo. É a
única música que levanta o freguês da cadeira. Agora, é preciso encontrar uma maneira de
levá-lo ao mundo. Isto é, descobrir um modo de simplificá-lo
(mesmo adulterando-o), até
torná-lo possível ao gosto e aos
nervos do mundo."
O ritmo, mostra o livro, chegou a Hollywood -caricatural,
mas chegou. Em "Romance Carioca" ("Nancy Goes to Rio",
1950), Carmem Miranda sai de
um pandeiro gigante e, ladeada
por bailarinas frevando, canta e
dança com um turbante adornado com sombrinhas de frevo.
Ironicamente, justo o ponto
forte do livro -as imagens-
evidencia a depauperação do
frevo ao longo dos anos. Os registros de Verger e Gautherot
são instantâneos de uma espontaneidade perdida, de uma
delicadeza que há muito se foi.
A idéia de cotejar as fotos antigas com outras de Carnavais recentes só escancara o abismo.
Por mais que se fale em renovação do ritmo, as imagens de
hoje revelam que o frevo do século 21, tal qual este livro que o
celebra, depende de produção
para exalar um frescor que um
dia foi inato.
(FÁBIO VICTOR)
FREVO - 100 ANOS DE FOLIA
Organizadores: Camilo Cassoli, Luiz
Augusto Falcão e Rodrigo Aguiar
Lançamento: Timbro
Quanto: R$ 95 (240 págs.)
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