São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros CRÍTICA DRAMA Longa sobre independência da Argélia é cinema clássico RICARDO CALIL CRÍTICO DA FOLHA Com "Fora da Lei", o cineasta franco-argelino Rachid Bouchareb dá continuidade a um projeto cinematográfico que pretende examinar as feridas nunca cicatrizadas na relação entre os dois países que formam sua nacionalidade. Depois de jogar luz sobre a esquecida participação de soldados magrebinos ao lado dos colonizadores franceses durante a Segunda Guerra Mundial em "Dias de Glória" (2006), agora Bouchareb dá sua versão para a luta pela independência da Argélia. A trama foca três irmãos argelinos, filhos de uma família que teve suas terras desapropriadas e alguns integrantes assassinados pelos franceses. Depois de seguirem trajetórias distintas, eles se reencontram na França, adultos, ao lado da mãe. Abdelkader (Sami Bouajila) se torna um ultradisciplinado seguidor da FLN (Frente de Libertação Nacional),grupo armado que admitia o terrorismo para chegar à independência, e arma as trincheiras para trazer a guerra para dentro da França. Após combater na Indochina pelo exército francês, Messaoud (Roschdy Zem) se junta à luta de Abdelkader, não sem dilemas morais pelos atos de violência que se vê obrigado a praticar. Said (Jamel Debbouze) é a ovelha desgarrada, o filho que tenta se integrar pelas margens, seja como cafetão ou empresário de um boxeador argelino que quer ser campeão francês. Como "Dias de Glória", "Fora da Lei" é um filme narrativo convencional, calcado em roteiro sólido, grandes interpretações, música e montagem que não apenas deixam clara a visão do cineasta, como também orientam o olhar do espectador para a mesma direção. Isso não significa que o filme seja ingênuo, panfletário, desprovido de complexidades. De certa forma, a visão de Bouchareb adere à do trágico Messaoud (que não, por acaso, perdeu a vista em um de seus olhos), o irmão que sabe racionalmente que a luta pela independência é justa e necessária, mas sente de forma visceral que seus métodos são questionáveis e traumáticos. No tema e no ideário político, "Fora da Lei" é um descendente direto de "A Batalha de Argel" (1965), de Gillo Pontecorvo, o grande filme sobre a independência da Argélia. Mas existe uma curiosa inversão histórica nesse parentesco: o clássico de quase 50 anos atrás é moderno; o filme novo é clássico. FORA DA LEI DIREÇÃO Rachid Bouchared PRODUÇÃO França, 2010 COM Jamel Debbouze, Roschdy Zem, Sami Bouajila ONDE Cinesesc e Frei Caneca Unibanco Arteplex CLASSIFICAÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO Bom Texto Anterior: Crítica/Drama: "O Primeiro que Disse" peca por ter personagens óbvios Próximo Texto: FOLHA.com Índice | Comunicar Erros

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