Municipal recebe leitura livre de 'Pinóquio'

Trezentas e cinquenta crianças e adolescentes estão se aquecendo para tomar conta do centenário palco do Theatro Municipal, reformado há pouco.

São alunos da septuagenária Escola de Dança de São Paulo com idades entre oito e 16 anos, que encenam hoje e amanhã espetáculo com proposta inédita na trajetória da instituição.

Inspirado na clássica história do boneco que queria ser gente, "Pinochianas" difere dos tradicionais festivais de fim de ano de academias de balé por explorar uma concepção cênica mais abrangente sobre o que é a dança. Nele não há saias de tule, coreografias consagradas ou contos clássicos de princesas. É um reflexo do projeto pedagógico adotado neste ano, que incorporou outros estilos de dança ao currículo.

"O mundo é outro, e a expressão do jovem também é outra. É importante dialogar com a contemporaneidade", afirma Susana Yamauchi, diretora e ex-aluna da escola.

Essa mudança fez de "Pinochianas" uma criação coletiva. Professores e alunos elaboraram as coreografias em parceria, a partir da trilha original de Ed Cortez.

Outro diferencial está na dramaturgia, assinada por Cecília Pimenta. Em vez de ser incorporado por apenas um bailarino, Pinóquio é visitado por vários (às vezes, mais de um ao mesmo tempo) -daí o plural do título.

A peça também abandona a narrativa linear para se concentrar nas sensações vividas pelo boneco no livro do italiano Carlo Collodi (1826-90).

Cada número dançado remete a passagens da história para retratar situações de tensão ou coragem, por exemplo.

"As crianças pesquisaram movimentos que pudessem traduzir a humanidade do Pinóquio, que opta pela mentira para sobreviver. A nossa jornada busca o porquê dessas escolhas dele", explica Yamauchi.