Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Restauro de um Da Vinci abala o Louvre

Diretores de restauração e pintura se demitem ao discordar de retoques em 'Virgem e o Menino com Santa Ana'

Técnicos alertam para processo agressivo demais no retoque das cores e acusam museu de causar danos à obra

A velocidade e a intensidade do restauro de uma tela de Leonardo Da Vinci dividiram os técnicos do Louvre, em Paris, provocando a saída da chefe de restauração e do diretor de pintura do museu.

"Virgem e o Menino com Santa Ana", tela do século 16, é considerada a segunda obra mais importante de Da Vinci no acervo, atrás da "Mona Lisa" em valor histórico.

Desde o ano passado, especialistas do museu estão empenhados em limpar as camadas superficiais de verniz sobre o quadro para retocar alguns danos na pintura.

Mas técnicos discordam sobre quanto deve ser removido desse verniz e dizem ser agressivo demais o processo utilizado, que ameaçaria o efeito "sfumato", técnica de pincelada de Da Vinci.

"Em todos os momentos do processo, escrevi relatórios expressando minhas preocupações", disse Ségolène Bergeon Langle, ex-chefe de restauro do Louvre, ao "New York Times". "Decidi que sairia do museu se alguns limites fossem ultrapassados."

Bergeon Langle, considerada uma "deusa" por membros da equipe de restauro do museu e uma das maiores especialistas em conservação de pintura no mundo, alertou para a tentativa agressiva demais de reaver as cores fortes da tela do mestre italiano.

"Ficaria feliz com um quadro mais sujo, sem brilho", disse Jacques Franck, outro restaurador do Louvre. "Não existe verdade única, mas não temos a mesma visão sobre o que deveria ser suprimido e o que deve ser mantido."

Também deixou seu cargo o diretor de pintura do Louvre, Jean-Pierre Cuzin, embora não tenha atrelado o pedido de demissão ao episódio.

Há dúvidas, ainda, se as camadas de verniz sobre a tela teriam sido obra do próprio Da Vinci ou se foram aplicadas depois, em outras tentativas de restauro do quadro.

Noutro ponto de discórdia, o atual diretor de pintura, Vincent Pomarède, comunicou que seriam mantidos no pano de fundo da tela uma série de árvores feitas por outro autor e não Da Vinci.

Pomarède também rebateu as denúncias, dizendo ser "normal que a restauração de uma obra tão famosa leve a interrogações e discussões".

"A limpeza recente era absolutamente necessária por motivos estéticos e de consevação", disse. "Estamos satisfeitos com os resultados da limpeza e o início dos retoques, embora alguns excessos possam ser removidos."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.