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Filme recusa psicologismos fáceis ao tratar identidade sexual na infância RICARDO CALILCRÍTICO DA FOLHA Em "Lírios d'Água" (2007), a francesa Céline Sciamma demonstrou talento para a direção de jovens atores e para tratar com delicadeza a descoberta da sexualidade. "Tomboy", seu terceiro longa, é uma confirmação dessas virtudes. Se naquele filme ela falava sobre o despertar do desejo entre três adolescentes, agora lida com a identidade sexual de uma pré-adolescente de dez anos. Com cabelos curtos e corpo infantil, Laure (Zoé Héran) se muda para um condomínio e é confundida com um garoto por Lisa (Jeanne Disson), sua nova vizinha. Laure não desfaz o mal-entendido e decide se apresentar como Michael para Lisa e outras crianças. Lisa logo se apaixona por Michael e é timidamente correspondida. Mas a mentira não pode ser sustentada por muito tempo. Ganhador do Teddy Bear, prêmio para produções com temas gays no Festival de Berlim, "Tomboy" se filia a uma tradição de filmes que encenam mudança de gênero sexual -do cômico "Tootsie" (1982) ao dramático "Meninos Não Choram" (1999). Mas "Tomboy" traz algum frescor a essa linhagem. Primeiro, por localizar essa encenação na pré-adolescência. A farsa de Laure está entre a brincadeira da criança e a experimentação sexual deliberada do adolescente -e a diretora tem a sabedoria de não dissipar a ambiguidade. Segundo, porque o filme recusa psicologismos fáceis e, muitas vezes, preconceituosos. Laure não é filha de pais negligentes nem vítima de um lar desfeito. É alguém que muito jovem tentou ser outra pessoa -e que descobriu que a decisão tem consequências. Se, por um lado, Sciamma descarta o psicologismo, por outro, não resiste à tentação de espalhar símbolos sobre sexualidade em praticamente todas as cenas do filme -uma das poucas concessões da cineasta à obviedade. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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