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Crítica Drama

Hansen-Love conduz longa de tom oscilante com segurança

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Uma concepção, tão difundida quanto equivocada, julga que "críticos de cinema são cineastas frustrados".

No entanto, não é curta a lista de diretores importantes (François Truffaut, Jean-Luc Godard, entre outros) que produziram reflexões sobre o cinema a partir da obra alheia, antes de passarem à realização.

Mia Hansen-Love confirma essa tradição de narradores que pensam o cinema e o que se pode fazer nele, mas nem por isso se entregam ao onanismo dos filmes teóricos.

"O Pai dos Meus Filhos", segundo longa da diretora, estreia hoje pegando carona no encantador "Adeus, Primeiro Amor", seu terceiro trabalho, em cartaz há um mês.

Como sugere o título, "O Pai dos Meus Filhos" esboça uma crônica sobre filiações.

Numa primeira parte, enfoca-se o mundo do trabalho no retrato do cotidiano turbulento de um produtor de cinema, suas dificuldades financeiras, suas apostas estéticas e, sobretudo, seu modo de se relacionar com cineastas.

Nela, sobressai o retrato desglamourizado dos bastidores do cinema e, sobretudo, a representação da figura do produtor, que destoa da habitual visão negativa que esse personagem carrega nos filmes que ficcionalizam filmagens.

Após uma ruptura brusca, na segunda parte o filme se detém sobre o mundo da família, a reconstrução dos afetos, os primeiros enlaces amorosos, as dúvidas de uma mulher que tem de reinventar sua vida após uma perda.

Enquanto a primeira metade projeta uma objetividade nas ações, diálogos e espaços físicos, a segunda focaliza as subjetividades, vagueia entre os personagens capturando os sentimentos, as tonalidades particulares de cada cena, buscando amplificar a escala das emoções e, assim, alcançar a sensação de veracidade do relato.

A mudança abrupta entre os dois blocos poderia sugerir desequilíbrios que transformariam a obra em apenas meio filme bom ou em um filme meio bom.

O que se vê, no entanto, é um trabalho que não teme esse risco. A segurança com que Hansen-Love conduz sua ficção basta para distingui-la no oceano de cineastas que só aprenderam a obediência às fórmulas.

O PAI DOS MEUS FILHOS

DIREÇÃO Mia Hansen-Love

PRODUÇÃO França/Alemanha, 2009

ONDE no Cinesesc

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO bom

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