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Mônica Bergamo

monica.bergamo@grupofolha.com.br

Fotos Adriano Vizoni/Folhapress
As ex-dasluzetes Julia Maringoni Faria, Fernanda Kujawski e Tatiana Monteiro de Barros, no shopping Cidade Jardim
As ex-dasluzetes Julia Maringoni Faria, Fernanda Kujawski e Tatiana Monteiro de Barros, no shopping Cidade Jardim

MBA Daslu

Crias de Eliana Tranchesi, as dasluzetes contam como foi a formação em um cargo mais disputado "do que ser paquita" e o que as fez se espalharem como "corintiano" pelo mercado

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Em um rápido passeio pelo shopping Cidade Jardim, templo paulistano do consumo de luxo, elas encontram várias colegas dos tempos áureos da Daslu. Ao entrar no elevador, três ex-dasluzetes, como são conhecidas as vendedoras e auxiliares da empresária Eliana Tranchesi, dão de cara com uma modelista da época da Vila Nova Conceição, berço da multimarcas em São Paulo.

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No reencontro, a jovem conta que abriu uma empresa e desfia a lista de grifes que atende. "Ex-Daslu virou corintiano. Está em todo lugar", afirma Julia Maringoni à repórter Eliane Trindade. Ela passou dez dos seus 30 anos como vendedora na loja, ícone de glamour, mas também símbolo de sonegação fiscal.

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A frase da ex-dasluzete sintetiza a diáspora da turma. A própria Ju, como é chamada, saiu da Daslu em abril do ano passado. Hoje, está à frente da operação brasileira de duas marcas internacionais: Pucci e Jimmy Choo.

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No hospital onde morreu no último dia 24, aos 56 anos, a antiga dona da Daslu comentara com Monica Mendes, uma de suas ex-pupilas, o quanto estava "proud" (orgulhosa) do sucesso de suas "meninas". "Muitas pessoas aprenderam muita coisa com a gente e hoje podem trabalhar nessa área fora da Daslu", disse Eliana.

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Nos últimos seis anos, a empresária lutou contra um câncer e viu seu império, que chegou a faturar R$ 200 milhões por ano, mudar de mãos em meio ao escândalo fiscal que lhe rendeu condenação, em primeira instância, a 94 anos de prisão.

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Ter trabalhado com Eliana é o currículo de profissionais que levam o conceito criado por ela mercado afora. "Daslu virou escola e celeiro de capacitação. É o grande legado de Eliana Tranchesi", afirma Carlos Ferreirinha, da MCF Consultoria.

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Mesmo com a recuperação judicial e a venda ao grupo Laep, o consultor diz que dez entre dez shoppings querem uma Daslu para chamar de sua. "Eliana e seu modelo de negócio conseguiram decifrar com propriedade o comportamento do consumo de alta renda no Brasil."

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Nesse contexto, o passe das dasluzetes está em alta. A Chanel contratou Cicila Street (52 anos, 25 de Daslu). Valentino abre a primeira loja em SP no segundo semestre tendo à frente Patrícia Bagattini (29 anos, 12 de Daslu).

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Elas reconhecem ter uma mesma credencial. "Trabalhar na Daslu foi uma faculdade melhor do que a Parsons", diz Cicila, em referência à escola americana de moda e design. "Eliana me deu a oportunidade de ir a todos os fashion weeks e visitar os showrooms das mais importantes grifes internacionais. Que outras pessoas no mundo tiveram esse privilégio?"

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Além do know-how, as dasluzetes, com seus sobrenomes de peso, eram peças-chave de um serviço criado à imagem de Eliana.

Patrícia, que cursou a Parsons, diz que fez um "MBA Daslu". "Na faculdade, aprendi o lado artístico da moda; na Daslu, o que é o business, a ser comercial e a conhecer a clientela", compara Patinha, apelido dado por Eliana para diferenciá-la das várias Pats da loja.

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"Cada uma seguiu seu rumo. Eu fiquei na Daslu", afirma Patrícia Cavalcanti, diretora de marketing na nova fase. "Somos as verdadeiras guardiãs do legado da Eliana. O conceito criado por ela sobreviveu à crise e vai sobreviver à morte dela", emociona-se Pat C, 44, 21 anos de dasluzete.

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Já outras crias de Eliana abriram negócios próprios, como Fernanda Kujawski, 32, dona da grife FK, e Helena Sicupira (herdeira da Ambev), da Etoiles. Nesta quarta, o estilista Sandro Barros, 35, que assinava a alta-costura da butique, inaugura ateliê nos Jardins, em sociedade com Renata Queiroz de Moraes, herdeira da JFernandes Construtora e sua antiga cliente.

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A mini-Daslu de Sandro vai ocupar uma "maison" de dois andares e venderá vestidos de noiva e festa de até R$ 60 mil. "Vamos oferecer os serviços aos quais minhas clientes estão acostumadas."

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E as técnicas de sedução na Daslu eram imbatíveis. "Cansei de arrumar armário de cliente. Entrava na intimidade delas, decorava o que cada uma tinha tinha no closet para oferecer os novos produtos e montar os looks", diz Ju Maringoni.

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As dasluzetes levam uma vantagem competitiva no balcão. "Frequentamos o mesmo círculo das nossas clientes", afirma Tatiana Monteiro de Barros, vendedora por quatro anos. Ela virou representante da La Perla no Brasil, primeiro em um "corner" na Daslu e depois com loja própria.

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Com a abertura das importações no governo Collor, a primeira leva de dasluzetes fez a festa. A multimarcas chegou a ter 150 grifes estrangeiras nas araras. Reza a lenda que uma delas chegou a vender R$ 1 milhão no mês. E teria ganhado R$ 30 mil entre salário e comissão.

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A remuneração e as viagens por Nova York, Milão e Paris faziam o posto ser cobiçadíssimo. "Uma conhecida disse que ser dasluzete era mais difícil que ser paquita", conta Ju Maringoni. Na "Dasluland", a rainha Eliana era tão admirada e temida quanto Xuxa. "Ela era uma espécie de celebridade do conceito que criou. Todo mundo que vinha à Daslu queria dar uma palavrinha e tirar uma foto com ela", recorda-se Cicila.

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Na "Disneylândia da moda", como Eliana definiu seu reino, as broncas e as cobranças de meta eram feitas em bilhetinhos com coração. "Diziam que era muita mulher junta, muita fofoca. Nada disso. Criamos uma grande família", diz Fê Kujawski.

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As escolhidas de Eliana tinham que se "virar nos 30". Arrumavam estoque, ajudavam nos desfiles e até faziam manicure uma da outra nas viagens. "Nos sentíamos também donas da Daslu", diz Ju. Os donos do negócio hoje são outros. E as meninas viraram concorrentes em um jogo de R$ 26 bilhões que o mercado de luxo no Brasil movimenta a cada ano. Agora, é cada dasluzete no seu "corner".

Ex-Daslu

Onde estão algumas das crias de Eliana Tranchesi

Cicila Street
ex-diretora da multimarcas, foi para a Chanel brasileira

Sandra Toscano
saiu da Daslu Homem para a Bottega Veneta

Patrícia Bagattini
ex-compradora de importados, foi para o grupo Valentino

Ricardo Minelli
ex-diretor da Daslu Homem, é CEO da Giorgio Armani no Brasil

Donata Meirelles
braço direito da empresária, virou diretora de estilo da 'Vogue'

Julia Maringoni
ex-vendedora, está à frente da Jimmy Choo e Pucci no Brasil

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