Festival traz à tela cenas da Primavera Árabe

Em cantos diferentes da praça Tahrir, numa noite de protestos no Cairo, o dinamarquês-palestino Omar Shargawi e o americano-egípcio Karim El Hakim foram capturados pela polícia secreta, levaram uma surra e acabaram jogados no mesmo caminhão, já ao amanhecer.

Cenas da rotina da produção de um filme, feito por mãos munidas de celulares e câmeras, sobre o levante que derrubou o ditador Hosni Mubarak em fevereiro de 2011,.

A base da produção era o apartamento de El Hakim, onde moravam também sua mulher e seu filho de um ano.

"Tivemos sorte naquela noite porque tínhamos passaporte estrangeiro; outras pessoas foram deixadas para trás, sangrando", disse Shargawi, codiretor de "½ Revolução", destaque no É Tudo Verdade, após passar em Sundance neste ano.

"Dias depois, ter um passaporte virou problema. As ruas estavam cheias de milícias atrás de estrangeiros, palestinos. Foi crítico", continuou, em entrevista à Folha.

Tal tensão fica clara nas cenas de câmera tremida, enquanto a turma se encontra no apartamento, muitas vezes sem luz, com tiros e gritos que ecoam pelas janelas.

"Não tínhamos mais nada pra fazer a não ser filmar. O filme é parte da revolução, não é uma lição de história", disse Karim El Hakim.

O filme registra 11 dias de protestos e mostra as opiniões diversas, principalmente sobre o Exército, que chega para acalmar os ânimos e agora controla o país.

Para Shargawi, diretor de "Go with Peace Jamil" (2008), premiado em festivais internacionais, a situação no Egito está tão ruim que o filme poderia se chamar "um quarto de revolução". "O Exército está roubando a revolução."

No mês que vem, o filme segue no evento em Brasília e deve enfim chegar ao Egito, num centro cultural francês.