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Crítica Documentário Filme escancara a real força das manifestações no Egito ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULO Tanques, bombas de gás, correria, sangue. Palavras de ordem contra o ditador, choro, medo, fogo. Boa parte do documentário "1/2 Revolução" mostra isso: cenas nervosas dos manifestantes que tomaram a praça Tahrir, no Cairo, e desencadearam o movimento que derrubou o egípcio Hosni Mubarak há pouco mais de um ano. Da sacada de um apartamento, os cineastas Omar Shargawi e Karim El Hakim escutaram o ruído do protesto e resolveram filmar o que estava acontecendo lá em baixo. Fizeram o que definiram como "uma história pessoal da Primavera Árabe". El Hakim (egípcio-americano) e Shargawi (dinamarquês-palestino) partiram para a empreitada com amigos egípcios ou de raízes árabes. Desembarcam nos protestos com filmadoras e celulares e os acompanham por 11 dias. Num vaivém, eles correm da rua para o apartamento, tentando escapar da polícia e das violentas gangues de partidários do regime que desmoronava. Falam ao telefone com parentes, contabilizam mortes e arranham análises-relâmpago de conjuntura. A rotina na casa é a outra parte do filme. Se o pulsar da rua oscila entre uma praça de guerra e um festival de música, no apartamento a trupe também vive a euforia e a apreensão. Às vezes, enxergam a vitória da revolução -e se emocionam ao perceber que fazem parte dela, não são meros observadores. Em outros momentos, preveem um banho de sangue -e discutem se vale a pena correr o risco de ficar no meio da convulsão. Focado nesse grupo de classe média, o documentário não se preocupa em oferecer um contexto maior. Poucos são os manifestantes que exclamam palavras contra o desemprego, a falta de moradia, os preços altos. As greves, fundamentais para a queda do regime, não são mencionadas. Organizações e partidos são esquecidos. Junto com os cineastas, o espectador cai de paraquedas na insurreição. Essa imersão nas tensões das batalhas das ruas é o ponto forte do filme. A câmera treme, fica desfocada, mostra a escuridão: faz o registro essencial. No terreno das ambiguidades aparece também, embora de forma lateral, um personagem central dessa história: o Exército egípcio. Instituição basilar do país, deixou seus tanques serem pichados e tomados pela multidão. No filme, quando essas máquinas de guerra chegam ao centro do Cairo, um manifestante grita: "O Exército está contra nós?". A pergunta pode ecoar perfeitamente nos dias de hoje. Os militares, que assumiram o poder após a queda de Mubarak, enfrentam protestos na difícil transição para a democracia. Sim, o processo de mudança não se completou. O documentário não mostra o todo, mas escancara uma metade crucial: a força das manifestações no Egito. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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