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Crítica Teatro

Peça baseada em livro sobre síndrome de Down efetiva uma verdadeira catarse

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O teatro como tomada de consciência. "O filho eterno", espetáculo da Cia. Atores de Laura a partir de romance homônimo de Cristóvão Tezza, apresenta o longo e doloroso processo de aceitação por um pai de seu filho excepcional.

A narrativa original foi respeitada pelo adaptador Bruno Lara Rezende, que apenas encurtou a prosa de Cristóvão Tezza e, nivelando-a no tempo do presente, manteve as dicotômicas vozes do narrador e do personagem do pai confundindo-se e sobrepondo-se no monólogo de um único agente emissor.

A história de um jovem e inseguro romancista, que recebe com estupor a notícia de que seu primeiro filho nasceu com a síndrome de Down, ganhou ares de universalidade e foi recebida como alta literatura, talvez pela brutal sinceridade e requinte com que o autor se permitiu descrever o abjeto sentimento de rejeição que tomou conta dele.

Quando o narrado à intimidade de um leitor solitário torna-se cena e materializa-se diante dos nosso olhos, o choque é distinto. A cumplicidade natural que surge entre seres humanos reunidos o amplifica.

A direção de Daniel Herz compreendeu o incremento inevitável que a passagem do plano literário para o cênico acarretaria e concentrou a ação dramática na relação pai e filho, potencializando os efeitos emocionais dessa voz a confessar uma aversão normalmente inconfessável.

O trabalho de intérprete de Charles Fricks é notável, sendo compreensível que tenha sido premiado. Mesmo assim, um pouco mais de frieza e um pouco menos de afetação teriam contribuído para acirrar ainda mais o aspecto monstruoso e demasiado humano desse pai, que precisará de uma vida inteira para aceitar o "filho mongoloide".

O cenário de Aurora Campos, um fundo abstrato em que pulsam as variações emocionais do personagem, e o desenho de luz de Aurélio de Simoni que demarca os momentos críticos de sua trajetória, são cúmplices do encenador na efetivação de uma verdadeira catarse.

A coragem de Cristóvão Tezza de escrever sem meias tintas sua sofrida experiência o consagrou como escritor. Quando esse sucesso literário se torna encenação, e configura no espaço público do teatro aquela lição de vida singular, torna-se consciência coletiva e cumpre a nobre missão do esclarecimento, que desde os antigos gregos a arte dramática almeja.

O FILHO ETERNO

QUANDO hoje, às 21h, e amanhã, às 18h. Último fim de semana

ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000)

QUANTO R$ 8 a R$ 32

CLASSIFICAÇÃO 12 anos

AVALIAÇÃO bom

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