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Livros

Nobel nigeriano ganha homenagem e 1ª edição no país

Wole Soyinka lança 'O Leão e a Joia' e fala nesta noite na 1ª Bienal Brasil, que é inaugurada hoje em Brasília

"Me incomodava um tipo de apreciação falsa e simplista da cultura europeia", diz vencedor do prêmio de 1986

ALEXANDRA MORAES
EDITORA-ADJUNTA DA “ILUSTRADA”

Primeiro africano negro a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1986 -o franco-argelino Albert Camus, branco, foi laureado em 1957, ele mesmo faz questão de lembrar-, o nigeriano Wole Soyinka escreveu sobretudo peças de teatro, mas também poemas, romances e ensaios ao longo de mais de 50 anos.

Entre a vida na Nigéria e as aulas que ministra na Califórnia, Soyinka, 77, vem ao Brasil nesta semana para participar da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília.

De carona no evento, pela primeira vez uma das obras do autor ganha edição nacional: trata-se de "O Leão e a Joia", peça elaborada no finzinho dos anos 1950, que sai pela Geração Editorial.

"Era o começo da minha escrita mais profissional", conta o autor, que, quando compôs o texto, estudava literatura inglesa em Leeds, na Inglaterra.

Na peça, o "leão" é o chefe de uma aldeia iorubá, o velho Baroka, e a "joia" é a moça mais bonita do povoado, Sidi. Ela é cortejada ao mesmo tempo por Baroka e por Lakunle, um professor primário que tentava emular costumes dos colonizadores ingleses no local.

Para Soyinka, o que está em jogo no texto é menos um choque de civilizações e mais a evidência de uma situação ridícula. "O que me incomodava mais era um tipo de apreciação falsa e simplista da cultura europeia."

"A atração pelas características mais superficiais da tradição ocidental, representada pelo professor Lakunle, estava presente na crescente classe média do fim do período colonial nigeriano [1800-1960]", afirma.

"Soyinka sempre manteve uma posição muito crítica ao reconhecer os problemas causados pela colonização, mas, ao mesmo tempo, expor os desmandos dos novos donos do poder", afirma a professora da UFMG Eliana Lourenço de Lima Reis, autora de "Pós-Colonialismo, Identidade e Mestiçagem Cultural: A Literatura de Wole Soyinka", escrita em 1999.

"Assim, suas sátiras atacam com extrema virulência (e bastante ironia) as ditaduras que assolaram o continente africano por várias décadas", continua.

"Em muitos países africanos, o período colonial não terminou. Ou, se terminou, deixou substitutos em seu lugar", diz o próprio Soyinka.

POLÍTICA

Preso durante dois anos por ter tentado promover um acordo durante a Guerra Civil Nigeriana -a tentativa de independência de Biafra, que terminou com uma estimativa de mortos de fome que rondava o milhão-, em 1967, e atuante nos vários períodos de instabilidade política na Nigéria desde a independência, Wole Soyinka fundou um partido, em 2010, a Frente Democrática pela Federação do Povo.

"Não tenho mais interesse em política. Eu me considero mais um agregador, pois é um partido para os jovens, que encontraram portas fechadas nos partidos tradicionais. Já fiz de tudo para sair, só que ainda não me deixaram", afirma, rindo.

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