Crítica / Policial

Coleção de livros policiais traz novela que antecipa o gênero

E.T.A. Hoffmann (1776-1822) é mais conhecido entre nós por seus contos fantásticos, especialmente pelo "Homem de Areia".

A partir dessa história, Sigmund Freud (1856-1939) chegou à percepção daqueles eventos que nos são familiares e, ao mesmo tempo, estranhos e nos provocam uma sensação de incômodo, de inquietude.

O escritor romântico alemão, contudo, possui uma obra variada, e é interessante que uma produção sua de outra natureza marque a estreia de uma nova coleção de títulos clássicos da editora Civilização Brasileira.

"A Senhorita de Scuderi" (1820) é uma espécie de quase novela policial, uma vez que já traz vários dos elementos que Edgar Allan Poe (1809-1849) consolidaria nos três contos que dão origem ao gênero poucos anos depois: "Assassinatos na Rua Morgue" (1841), "A Carta Roubada" (1845) e "O Mistério de Marie Rogêt" (1845).

PUNHALADAS

Estão presentes os crimes ("Uma punhalada no coração. Segundo o veredicto dos médicos, tão rápida e fatal que o ferido, incapaz de emitir um som sequer, desabava ao chão"), o clima, as diferentes versões, as tentativas de investigação.

No entanto, falta o elemento marcante de um detetive capaz de juntar as peças do quebra-cabeça e montar a solução. Esta, aqui, se apresenta de outro modo.

O caso do livro se passa em Paris, em 1680, e envolve a "senhorita" que dá título ao livro, uma escritora de 73 anos, e uma série de assassinatos em que joias sempre eram roubadas.

A história é contada por Hoffmann em capítulos curtos nos quais se alternam tempos e personagens (uma mistura elaborada de figuras reais e ficcionais).

O volume traz ainda um bom posfácio do tradutor da obra, Marcelo Backes.