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Crítica / Policial

Estreante brilha com trama sobre a memória

S. J. Watson alcançou sucesso de vendas com drama sobre mulher cuja lembrança não sobrevive às noites de sono

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

O leitor militante pode torcer o nariz ao ler o resumo da trama de "Antes de Dormir" impresso na contracapa do livro. "A memória nos define. Como seria, então, se você a perdesse toda vez que dormisse?" Pronto: mais uma novela que vai virar roteiro de filme descartável.

Não é para menos. Ninguém precisa se esforçar muito para lembrar histórias assemelhadas, a exemplo da comédia adocicada "Como se Fosse a Primeira Vez" (2004), em que Adam Sandler a cada dia tem de se reapresentar a Drew Barrymore para ganhar a confiança e o amor da moça, que a cada noite esquece tudo novamente.

Mais dramático e violento, "Amnésia" (2000), dirigido por Christopher Nolan, também se aproxima de "Antes de Dormir".

No filme, o desmemoriado personagem principal usa um complexo sistema de recados em fotos e textos tatuados no próprio corpo para seguir pistas e descobrir o assassino de sua mulher.

No livro do estreante britânico S. J. Watson não há mortes, mas a violência está presente o tempo todo, lateja na mente da personagem principal, vítima de um ataque que a deixou em coma.

Quando voltou a si, era como se não fosse ela mesma, como se não fosse ninguém: não tinha memória, não sabia sua identidade, não conhecia a própria vida nem identificava as pessoas que a rodeavam.

O livro inicia no "hoje".Christine Lucas abre os olhos e leva um susto ao ver que está na cama com um homem. Pior, um sujeito casado, pensa, ao notar a aliança.

Quando ele acorda, se identifica: é Ben, o marido dela, que vai explicando o drama da mulher e apresentando a ela a vida nova de cada dia, como sempre faz todas as manhãs.

TENSÃO E SUSPENSE

A angústia da dona de casa quarentona dói. Aos poucos, auxiliada por Ben, vai reaprendendo os pequenos truques que usa para tentar reconstruir a memória de sua vida. Ao que parece, com resultados pífios: consegue reter informações ao longo do dia; quando dorme, porém, tudo se esvanece.

Na vida real, não há notícia de um caso assim, me diz um dos maiores especialistas em memória do país, o doutor Ivan Izquierdo. "Trata-se de uma licença poética", concede um colega dele, Martin Cammarota.

De fato, à ficção não importa muita a verossimilhança, mas sim a coerência dentro da realidade construída na história.

E aí o autor do livro, que trabalha com crianças com problemas auditivos e produziu essa história como conclusão de um curso sobre escrita de romances, se sai muito bem.

Sua trama tem lógica interna, as descobertas feitas por Christine não acontecem por acaso e a tensão vai se acumulando de forma a obrigar o leitor a não parar de ler até o desenlace do mistério.

Que começa quando Christine lê, no diário que é seu esteio e contato com o passado, quatro palavras escritas em caneta preta e letras maiúsculas: "NÃO CONFIE EM BEN".

Com a angústia que beira o desespero, ela segue numa jornada que busca o conhecimento, se não a cura.

"Antes de Dormir" está há 14 semanas na lista dos dez mais vendidos do jornal britânico "The Sunday Times".

Quando foi lançado nos EUA, no ano passado, também frequentou o ranking de best-sellers do "New York Times". Ridley Scott comprou os direitos para o cinema. Vai dar um filmão.

ANTES DE DORMIR
AUTOR S. J. Watson
EDITORA Record
TRADUÇÃO Ana Carolina Mesquita
QUANTO R$ 39,90 (400 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

FOLHA.com
Leia trecho do livro
folha.com/no1082163

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