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Crítica musical Comovente, musical celebra os 90 anos da diva Bibi Ferreira Amparada por orquestra, cantora dá mostras de todo o seu carisma e presença cênica em "Histórias e Canções" É notável como, sem nenhuma partitura a sua frente, a artista desfile tão vasto repertório LUIZ FERNANDO RAMOSCRÍTICO DA FOLHA Cessa tudo quando a antiga diva canta. "Bibi - Histórias e Canções", espetáculo que celebra os 90 anos de Bibi Ferreira, coroa a carreira única no teatro brasileiro e atualiza o reconhecimento de um talento extraordinário. Concebida por Bibi, em parceria com Nilson Raman e João Falcão, e dirigida por este último, a encenação se vale do carisma da atriz. Sua presença cênica, como uma entidade que alcança a condição de mito em vida, arrebata desde o momento em que ela surge em meio a uma orquestra de 26 músicos. Nos 80 minutos seguintes, o público se embevece com uma sequência de blocos temáticos que mesclam várias canções, o que só dificulta a interpretação, pois exige modulações harmônicas complexas na variação ininterrupta das músicas. Bibi encara essas transições com tranquilidade, sem abrandar seu timbre forte e sem perder a afinação perfeita. Verdade que a direção mantém o maestro e o arranjador das orquestrações, Flávio Mendes, próximo dela. Como um ator coadjuvante, ele dialoga com Bibi e dá a deixa para cada uma das sessões. Mesmo assim, é notável como, sem nenhuma partitura a sua frente, a artista desfile tão vasto repertório, que vai de antiquíssimos musicais de Hollywood até sambas de breque. Nas poucas vezes em que ela hesita na recordação de alguma letra, a leveza com que assume o erro, e retoma sem temor o canto, denota a tarimba da tradição de improviso do teatro popular. Bibi Ferreira sintetiza na sua trajetória tanto uma teatralidade brasileira que remete ao século 19 e seus grandes atores carismáticos, como às formas dos últimos 60 anos. Esse trânsito fluente entre tempos e registros distintos se confirma no momento mais emocionante do espetáculo, quando evoca o musical "Gota d'Água", de 1975, adaptação da "Medeia" de Eurípides de seu falecido marido, o talentoso dramaturgo Paulo Pontes (1940-1976), com composições dele e de Chico Buarque de Holanda. Expressa-se também quando apresenta suas paródias de árias de óperas famosas, em que encaixa Lamartine Babo e Pixinguinha em melodias de Verdi e Rossini, ou quando repropõe o "Samba de Uma Nota Só", de Tom Jobim, com letra de Noel Rosa. O espetáculo é um acontecimento. Consagra uma artista ímpar que elevou seu ofício, em sete décadas de prática, à condição de arte maior. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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